Um novo cenário para a pós-graduação

Publicado por Sinepe/PR em

Entrevista com Cristiane Mello David

A demanda por cursos de pós-graduação vem crescendo no Brasil. Não existem dados oficiais sobre cursos lato sensu no país, mas o último relatório Mestres e Doutores, realizado em 2015 pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), revelou que, entre 1996 e 2014, o número de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) triplicou no país. Já dados de 2016 da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) mostram que o Brasil conta com mais de 60 mil mestres e 20 mil doutores titulados. Em um cenário onde o mercado de trabalho é cada vez mais competitivo e exige qualificação, os cursos de pós-graduação se tornaram um diferencial para profissionais que desejam alavancar a carreira e se destacar no meio.

Nesta edição do Boletim Especial do Sinepe/PR, Cristiane Mello David, diretora de Ensino de Pós-Graduação do Sindicato, foi convidada para compartilhar um pouco de sua expertise na área. Psicóloga, psicopedagoga, diplomada em Estudos Avançados em Recursos Humanos e Organizações pela Universidade de Barcelona (Espanha), a Prof.ª Cristiane é diretora do Campus da UniCesumar em Curitiba e, na entrevista abaixo, apresenta um breve panorama de cenários, tendências e perspectivas dos cursos de pós-graduação no Brasil

Sinepe/PR – Pesquisas mostram que a remuneração de quem fez uma pós-graduação lato ou stricto sensu é maior que a de alguém que tem só diploma universitário. Ou seja, estes cursos se apresentam como um diferencial competitivo no mercado de trabalho. A Profª. percebe que houve uma mudança, de uma pós-graduação mais voltada para a academia, para cursos mais focados no mercado de trabalho?

Cristiane Mello David – Sem dúvida a remuneração de quem fez uma pós-graduação é maior do que a de um profissional que fez apenas uma graduação. Segundo pesquisa salarial e de benefícios realizada pela Catho Online, quem faz uma especialização ou MBA chega a ganhar até 70% a mais de quem possui apenas o diploma de graduação. Seguindo a tendência atual percebemos a presença maciça de oferta de cursos de pós-graduação na modalidade MBA. A sigla MBA quer dizer Master Business Administration, que em tradução livre significa Mestre em Administração de Negócios. Nestes cursos, o diferencial é que são abordados temas fundamentais relacionados a administração e a quem deseja empreender. São, portanto, mais focados no mercado de trabalho e na gestão. Importante salientar que são cursos de pós-graduação tanto quanto as especializações tradicionais, que, no caso, focam mais em uma área mais específica do conhecimento.

Sinepe/PR – Qual o cenário que as empresas se encontram hoje e que profissionais elas têm buscado?

Cristiane Mello David – O momento atual é de recuperação de mercado, mas ainda estamos, de certa maneira, enfrentando um cenário de retração no mercado de trabalho, com demissões, ajustes de contratos e corte de despesas. Porém, a procura pelo profissional qualificado é constante na medida em que se prevê uma estabilização em breve tempo. Aqui vale uma dica importante: são em momentos mais críticos que os profissionais devem intensificar/diversificar sua qualificação e não o contrário. Caso esteja buscando uma recolocação, ao aprofundar seus conhecimentos através de especializações, o profissional mostra ao mercado e a empresa que iniciativa e empreendedorismo estão entre suas principais características. Por outro lado, devemos ter em mente que num momento de retenção de gastos e cautela das empresas, a garantia no posto de trabalho está diretamente relacionada com as habilidades, conhecimento e comportamentos que o colaborado tem diante da organização. Os mais preparados são os mais desejados e os que tendem a permanecer no cargo no momento de corte de pessoal. Realizar uma pós-graduação abre esta perspectiva para o profissional, que aliando a sua postura diante da função e da equipe, melhora consideravelmente sua posição dentro do âmbito do trabalho.

Sinepe/PR – Qual o papel dos cursos de pós-graduação em um cenário de hiperespecialização das carreiras?

Cristiane Mello David – Embora as empresas muitas vezes exijam que os profissionais sejam hiperespecializados, ou seja, tenham foco bem determinado e segurança nas atividades que desenvolvem, não há como negar que é muito importante ter uma visão global do negócio e, porque não dizer, até da vida como um todo. Talvez o grande desafio dos cursos de pós-graduação seja especializar o profissional sem perder de vista que ele seja capaz de se desenvolver holisticamente e de ter uma visão sistêmica de seu negócio. Desta forma, encontramos cada dia mais profissionais que têm em seu currículo duas, três ou mais pós-graduações. Com certeza, a visão que a empresa tem desta pessoa é muito mais positiva em relação aos demais membros do grupo que não os têm.

Sinepe/PR – A tecnologia e o amplo acesso à educação colocaram o ensino de pós-graduação em uma posição completamente diferente do que se via há uma década. Como este cenário afetou e revolucionou o segmento?

Cristiane Mello David – Se pensarmos no aumento da presença de instituições de ensino e na consequente multiplicação de ofertas de cursos, somado ao avanço do ensino a distância, teremos então um cenário completamente diferente de décadas atrás. A tecnologia hoje ocupa uma posição de destaque, aumentando a capilaridade no acesso ao ensino superior de maneira geral e, por consequente, na pós-graduação. Essas novas ferramentas sem dúvida foram um avanço no setor, mas trazem consigo também um novo desafio que é conseguir oferecer um curso de qualidade num ambiente de maior flexibilização nas modalidades e acesso aos cursos. As instituições privadas têm a possibilidade de oferecer cursos de qualidade em suas diversas modalidades, atendendo aos diversos públicos e necessidades. As IES devem estar conectadas com o mercado de trabalho e todas as tecnologias que hoje fazem frente à inovação nesta área. Devem investir para que a demanda reprimida possa encontrar um portfólio de cursos e modalidades que atenda suas expectativas e necessidades.

Sinepe/PR – Um dos segmentos que mais crescem na educação é a educação a distância. Esta é uma tendência também para os cursos de pós-graduação?

Cristiane Mello David – O ensino a distância é sem dúvida uma nova possibilidade de acesso a cursos de pós-graduação. Porém, o ensino presencial não necessariamente perderá sua força, pois as escolhas também passam pelos vários aspectos que são avaliados antes de se decidir por um curso presencial ou a distância. A própria personalidade do aluno, tempo disponível de dedicação e duração do curso, entre outros, serão determinantes para a melhor escolha. Com os cursos a distância, é possível uma pessoa realizar sua pós-graduação nos polos existentes em todo o território brasileiros e, inclusive, encontrando também polos de educação a distância fora do Brasil. Isto promove uma oportunidade a mais para os profissionais que não têm tempo de frequentar semanalmente as cadeiras das universidades, adequando a seu ritmo de vida e atendendo a necessidade de seu crescimento profissional.

Sinepe/PR – Existem áreas mais em alta, em que a procura por cursos de pós-graduação é maior?

Cristiane Mello David – As áreas mais procuradas hoje são as dos cursos relacionados à gestão estratégica de empresas, gerenciamento de projetos, marketing digital, direito, cursos de MBA de maneira geral e os cursos na área da saúde.

Sinepe/PR – Como a Prof.ª vê a resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) que flexibilizou as regras para a criação de cursos de pós-graduação lato sensu e que permitiu que instituições não educacionais ofereçam estes cursos?

Cristiane Mello David – Não vejo como um problema a flexibilização da oferta de cursos de pós-graduação por instituições não educacionais, pois há uma seleção natural do mercado pela procura dos alunos. Os melhores cursos acabam formando turmas enquanto que os que não têm qualidade perdem credibilidade. Nesta mesma Resolução CNE/CES n.º 1, de 6 de abril de 2018, há também uma flexibilização em relação à presença ou não do trabalho de conclusão de curso e à quantidade de mestres e doutores no corpo docente, porém acredito que o próprio mercado regule a situação.

Sinepe/PR – Quais as principais dificuldades da área? Encontrar critérios que definam a qualidade e ferramentas de avaliação de um curso de especialização é uma delas?

Cristiane Mello David – Para avaliar um curso de pós-graduação, podemos seguir alguns critérios. O primeiro é verificar sua regularização no Ministério da Educação (MEC) – está diretamente ligado ao fato de ser lato sensu ou stricto sensu. Além disso, é muito importante verificar a reputação da instituição no mercado, sua infraestrutura, seu material de apoio, quadro de professores e demais indicadores de qualidade. A pós stricto sensu é acompanhada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que é a fundação do MEC. Neste tipo de pós-graduação, são realizados os mestrados e doutorados, avaliados por este órgão de forma sistemática, que considera o programa, corpo docente e discente, teses e dissertações, publicações e inserção social de cada programa, obtendo um conceito que varia em uma escala de 1 a 7, sendo 3 o padrão mínimo de qualidade. Já os cursos de pós-graduação lato sensu não são avaliados da mesma forma. Sua carga horária mínima deve ser de 360 horas e 50% dos docentes precisam contar com a titulação de mestre ou doutor, além da exigência da apresentação de um projeto final conforme o programa do curso. Existem vários rankings e certificações que dão uma chancela maior para os cursos ofertados, como, por exemplo, a Certificação da Associação Nacional de MBA (Anamba), que é um selo de qualidade independente e confiável para os MBAs. Para ter este selo, a instituição deve seguir alguns critérios próprios assinalados pela Anamba, como carga horária, corpo docente e atuação dos docentes no mercado de trabalho. As ferramentas hoje em dia são as mais variadas e consideram também a tecnologia, que vai além da sala de aula, como realidade aumentada, metodologias ativas, videoaulas, entre tantas outras.

Sinepe/PR – A pós-graduação exige investimento, tempo e dedicação. E, muitas vezes, o aluno não está disposto a tal. O que as instituições podem fazer para lidar e reverter este quadro?

Cristiane Mello David – A questão é criar diferenciais no curso que mostrem os valores que serão agregados ao currículo do profissional. Em nosso caso, a UniCesumar implementou o ambiente virtual de aprendizagem e disciplinas online, de modo a possibilitar a pesquisa nos diversos materiais científicos e acadêmicos disponíveis, além de convidar o aluno à interdisciplinaridade e integração com outras áreas do conhecimento durante sua especialização. Muito conteúdo, metodologia inovadora e profissionais mais que qualificados: esse é o foco da pós-graduação UniCesumar. Além de aprender com grandes nomes do mercado paranaense, o aluno estará sempre em contato com especialistas, mestres e doutores renomados de grandes centros nacionais e internacionais, referências em suas áreas. Isso, juntamente com Programas de Estudos Internacionais e outros projetos, lhe permitirá uma vivência agregada de conteúdos regional e global, ampliando sua visão.

Sinepe/PR – Que outras dicas a Prof.ª poderia compartilhar com outros gestores de instituições do Ensino Superior?

Cristiane Mello David – A dica é: toda e qualquer IES deve estar conectada com o mercado de trabalho e suas exigências, além de investir em mais de uma modalidade (distância, semipresencial e presencial) para fazer frente às demandas dos profissionais e à nova realidade do mundo, que a cada minuto está mais mergulhado nas novas tecnologias de aprendizagem. As instituições que não fizerem frente à estas demandas têm uma grande chance de serem colocadas em segundo plano na hora da escolha dos alunos.

Para falar com a nossa diretora de Ensino de Pós-Graduação, Cristiane Mello David, entre em contato pelo e-mail cristiane.mello@unicesumar.edu.br