Como as metodologias ágeis podem transformar o ensino superior?
Agilidade, experiência intensa e conectivismo inspirativo constituem os três pilares das metodologias ágeis e por isso são alternativas pedagógicas capazes de promover uma verdadeira transformação na educação superior.
Estudantes, na posição de aprendizes autodirigidos, vivenciam, em ciclos de aprendizagem pontuais, experiências, interações sobre processos e ferramentas, oportunidades de resposta à mudança e um esforço para que o processo de aprendizagem seja menos conteudista e mais focado no desenvolvimento e preparação dos estudantes para os desafios do mundo atual, ou seja, experiência a partir do desenvolvimento de competências.
Com agilidade, professores, na posição de companheiros, se adaptam rapidamente às habilidades e necessidades dos estudantes. Outro destaque está no compartilhamento de conhecimentos, informações e dados, por meio da componentização da aprendizagem em micromomentos, microatividades e microconteúdos, em partes menores, porém densas e relevantes. Aos professores, gestores e coordenadores de curso é importante selecionar, organizar e equilibrar o que se pretende construir com os estudantes.
As metodologias ágeis, no ensino superior, conferem ao estudante a posição de protagonista do seu próprio aprendizado atribuindo-lhe a capacidade de acessar informações, conectar-se a pessoas, tomar decisões e aprender, em qualquer hora e em qualquer lugar. Na Unicesumar, a abordagem é aplicada preferencialmente nos cursos de pós-graduação lato sensu, pois estes, atualmente, em consonância com o contexto do mercado de trabalho (ambientes de pesquisas, negócios e tecnologias), exigem agilidade no processo de ensino e aprendizagem a partir de ciclos de aprendizagem pontuais, experiência e compartilhamento de conhecimento.
Experiência e intensidade oferecem um aprendizado contínuo, conectado e colaborativo. Para LMS de ensino à distância, tem sido utilizado os seguintes recursos: blog, wiki, comentários, web-fórum, nano-learning, video based learning, digital game-based learning, QRCode e mensageria. A experiência, identificada como significativa, deve ser aplicada constantemente, por meio de feedbacks ou rubricas de avaliação – tanto do professor para os estudantes, como dos estudantes para o professor.
A força das conexões
Já o conectivismo inspirativo objetiva oferecer, por meio de ferramentas de colaboração, conexão entre os estudantes, professores e influenciadores ou referencias profissionais. A internet, conatural desse ecossistema, proporcionou acesso às informações e a possibilidade de acessarmos, conectarmos e criarmos informações em escala global. A sensação é de relacionamentos ilimitados entre seres humanos e informações. Contudo, reunir, organizar e sistematizar informações ou simplesmente acessa-las não é garantia de aprendizado, muito menos aprendizado significativo.
O fato é que as metodologias ágeis, no ensino superior, permitem ao estudante ocupar posição de protagonista do seu próprio aprendizado conferindo-lhe a capacidade de acessar informações, conectar-se a pessoas, tomar decisões e aprender, em qualquer hora e em qualquer lugar, a partir de ciclos de aprendizagem e avaliação frequentes e pontuais (Checklist, por exemplo).
A ideia é compartilhar experiências, cases, resolução de problemas (hands on, por exemplo). Essa conexão poder ser ao vivo, online ou gravada para acesso sob demanda. A possibilidade de fazê-los num makerspace, lab ou ambientes profissionais permite a imersão e constituem, no espaço de ação, inspiração por meio do desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes que podem ser aplicadas para a vida toda (nos ambientes de pesquisas, negócios, sociedade e tecnologia).
As metodologias ágeis são capazes de transformar a educação superior visto que fundamentalmente trazem a ideia do fazer e agora, ao invés de oferecer procedimentos demorados, inflexíveis, altamente complexos, com aulas de falas prolixas e avaliação exclusivamente final. Importante ressaltar que nestes métodos não pode haver lacunas ou intervalos extensos entre os tempos de aprendizado, aplicação do conteúdo e avaliação.
O mundo não é mais previsível? Nada será como antes? No mundo atual, as inovações tecnológicas e as mudanças comportamentais, nos desafiam, no ensino superior, a combinar qualidade com quantidade, planejamento pedagógico acessível, estruturado e flexível; atender a muitos ao mesmo tempo e em todos os lugares, e conseguir que cada um encontre sentido, significado e relevância. Personalizar ao máximo o processo de ensino e aprendizagem completam este ecossistema.
Este contexto é volátil, incerto, complexo e ambíguo – VUCA –, que exige ainda a habilidade de lidar com a adaptabilidade, isto é, a ausência de concretude e clareza em diversos contextos da sociedade disruptiva na qual vivemos.
Competências em alta
Diante disso, torna-se fundamental desenvolver competências como gestão do tempo, flexibilidade, comunicação e agilidade para enfrentar essas características e obter sucesso, já que as mudanças são inevitáveis. Inicialmente circunscrito ao ambiente das corporações, inevitavelmente expandiu-se e chegou ao âmbito educacional, que tem encontrado nas metodologias ágeis caminhos para elevar-se sobre os desafios propostos pelo mundo VUCA.
Já é possível afirmar que as profissões do futuro passarão inevitavelmente por um cenário em que habilidades, atitudes e competências como criatividade, inovação, resiliência, agilidade, inteligência emocional e capacidade de interpretação serão cada vez mais valorizadas. No contexto dessas transformações, estudos sociológicos e pedagógicos recuperam o debate sobre a educação, ao mesmo tempo em que se testemunha a emergência das metodologias ágeis.
Os avanços tecnológicos influenciam nossas vidas nos mais diversos aspectos, entre eles a maneira como aprendemos e adquirimos a informação. É difícil alguém esperar que o jornaleiro apresente a edição mensal da enciclopédia para ficar sabendo das últimas novidades ou se atualizar. Nos dias atuais, a informação está acessível em tempo real, direto da palma da mão ou na tela do computador. Nossa habilidade em aprender aquilo que precisamos para o futuro é mais importante do que aquilo que sabemos no presente. Essa premissa nos faz lembrar que um dos objetivos da educação instrucional não é ensinar coisas que já estão nos livros e na internet, é criar a alegria de pensar, de fazer o novo e de superar os desafios.
Os preceitos pedagógicos consonantes das metodologias ágeis podem ser caracterizados pela prática, flexibilidade, aprender e plicar habilidades, colaboração, problematização, flipped classroom, aprendizagem personalizada e co-construída. Estamos falando de menos teoria e mais prática, menos conteúdo e mais experiência, mais assertividade, objetividade e gestão do tempo (just in time), ao invés de prolixidade e modelos padronizados.
Então, é possível aprender em um ciclo de avaliação pontual, de maneira plena relevante e feliz? Mesmo diante de tamanha e infindável informação? Agora que sabemos as respostas… Hands on.
Fellipe de Assis Zaremba é responsável pelas áreas de pós-graduação e extensão EAD da Unicesumar.
Thuinie Daros é responsável pelos cursos híbridos /metodologias ativas da Unicesumar.
Fonte: Revista Ensino Superior
Data: 03/08/2019