O PISA e uma rede de colaboração entre escolas
A qualidade do ensino, tanto no sistema público como nas escolas particulares, é causa de interesse nacional. Desde antes da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB 9394/96) é consenso a importância estratégica da avaliação em larga escala como forma de monitoramento da qualidade do ensino.
Ao longo de trinta anos, o Brasil fez grandes avanços na concepção e implementação de um consistente sistema de avaliação da Educação Básica, o SAEB. Diferentes gestões de avaliadores e educadores se sucederam à frente do MEC, INEP e CNE trazendo cada uma a sua contribuição para o desenvolvimento de um sistema de avaliação sólido e eficaz. É digno de aplauso que o Brasil tenha desenvolvido exames e matrizes próprios, com a marca de nossa cultura e identidade. Essa consistente trajetória, longa de três décadas, colocou em marcha e fez nascer entre educadores e escolas a percepção do quanto se tem a ganhar com o amadurecimento da avaliação em larga escala na educação. Hoje, nossos exames, seus processos e os seus bancos de itens constituem um precioso patrimônio da sociedade brasileira, que convém preservar e aperfeiçoar.
No entanto, ao chegarmos ao fim da segunda década do século XXI, devemos reconhecer que os alunos que hoje frequentam as nossas salas de aula verão suas trajetórias de vida desenrolarem-se em contexto cada vez mais globalizado e planetário. Tanto no exterior como também no mercado de trabalho brasileiro, deverão cooperar e competir com seus contemporâneos das mais diversas nacionalidades. Os brasileiros estarão em boas condições para esse contexto na medida em que tenham tido trajetórias escolares à altura do que é feito noutros países.
A depender do uso de dados e aos resultados alcançados, além da forma como é feita a sua divulgação, exames podem vir a inspirar o estabelecimento de uma rede de colaboração entre escolas. Dessa forma, ao invés de instigar a competição fomentada pelos rankings, gestores e educadores poderão vir a compartilhar experiências bem-sucedidas, exitosas.
Razões dessa ordem levaram a FENEP – Federação Nacional das Escolas Privadas a enxergar o exame Pisa para Escolas uma oportunidade interessante para os estabelecimentos que compõem a sua base. O contrato firmado com a Fundação Cesgranrio, em outubro deste ano, prevê que o exame seja aplicado em maio de 2020 aos alunos que tenham 15 anos de idade. Os resultados serão entregues às escolas três meses depois, ainda em julho de 2020. No entanto, independente do desempenho que venha a ser apurado, a circunstância agora gerada marca um novo momento para o ensino privado no país, cujos sentidos convém explicitar.
Ao dar esse passo, a FENEP passa a se constituir como a instância através da qual as escolas brasileiras passarão a ter acesso a parâmetros internacionalmente reconhecidos. Os padrões de devolução incluem um denso relatório, cuja leitura sugere a cada escola ajustes não apenas internos, como também trocas colaborativas entre instituições, tanto entre diferentes estados como também entre escolas dos mais diversos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico -OCDE.
Essa será a primeira vez no Brasil que escolas tomam a iniciativa de se associarem com o propósito de empreenderem uma avaliação em larga escala. Agora na condição de contratantes e de principais destinatárias das informações apuradas; as escolas assumem uma nova postura.
Isso não colide com (e nem substitui) os referenciais nacionais já consolidados pelo INEP. Acreditamos na convivência entre diferentes parâmetros e na convergência entre perspectivas, que podem ser articuladas e combinadas para oferecer aos brasileiros de todas as origens uma escolaridade de qualidade. É universal o empenho de toda a sociedade brasileira em ver avançar as condições e a qualidade da escolaridade oferecida às novas gerações.
As escolas privadas estão fazendo a sua parte. E nesse movimento, dão à sociedade inequívoca demonstração do seu interesse e empenho pela promoção da qualidade do ensino e da trajetória escolar proporcionada às novas gerações de brasileiros.
Pedro Flexa Ribeiro é diretor da Federação Nacional das Escolas Particulares – FENEP e do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro – SINEPE Rio. É também responsável pelo Projeto PISA na FENEP.