Ensino remoto: da educação infantil ao ensino superior, instituições usam criatividade para manter qualidade das aulas
Após cerca de três meses da suspensão das aulas, escolas e faculdades se adaptam à nova rotina de estudo; tecnologia e ferramentas digitais são aliados da nova realidade
A educação nunca foi tão inovadora como nos últimos meses. Com a suspensão obrigatória das aulas de escolas e universidades em razão da pandemia do novo coronavírus, as instituições tiveram que reinventar seu formato de ensino, agora a distância.
Assim, com o uso da tecnologia e muita criatividade, alunos, pais e professores têm se adaptado à nova rotina virtual, aprendendo a utilizar seus benefícios no aprendizado diário. Confira algumas ações à distância que instituições privadas do estado têm feito.
Oportunidade para desenvolvimento profissional
Assim como outras instituições, a Pré-escola Porto Seguro, em Curitiba, vem se reinventando para levar a educação para dentro das casas de crianças pequenas. Com uma nova realidade de ensino, aplicativos e ferramentas digitais, como o WhatsApp, tornaram-se parte da rotina para manter o contato com os alunos, pais e equipe escolar.
Assim, textos e vídeos sobre hábitos alimentares, rotina, convívio familiar; brincadeiras, leituras e outras atividades passaram a ser transmitidas virtualmente, a fim de garantir um tempo de qualidade também em casa. Para que isso fosse possível, planejamento, preparo e empatia foram fatores fundamentais no processo.
“Essa geração que hoje atua em sala de aula, não recebeu formação digital para desenvolver o trabalho para tal conjuntura, fomos pegos de surpresa”, afirma Dorojara Ribas, diretora da Porto Seguro. “Ainda assim, buscamos uma formação para nossos profissionais por meio de cursos sobre como realizar lives para crianças pequenas e abordagens tecnológicas para a Educação Infantil”.
Com mais segurança e capacitação por parte dos profissionais, a escola realiza lives semanais, que permitem a interação com professores e colegas, fundamental para “diminuir” a distância causada pelo isolamento social. “Acreditamos que as boas práticas permeiam o crescimento e a aprendizagem de todos, pais, professores e principalmente de nossas crianças que, em sua sabedoria infantil, conseguem se adaptar continuamente às mudanças”, afirma.
Desenvolvimento para novo mercado de trabalho
Na Faculdade do Litoral Paranaense e no Instituto Superior de Educação de Guaratuba (ISEPE) o sistema de ensino nunca foi tão inovador como nos últimos meses. Além do uso mais intensivo das redes sociais e de ferramentas de chamada de vídeo para a realização das aulas, a instituição criou uma série de iniciativas para garantir que toda a comunidade se mantenha informada.
Assim, novos formatos de conteúdo, como podcasts, ações temáticas e vídeos com a participação dos docentes e convidados, tornaram-se parte da nova rotina. “Tem sido um grande desafio para todos os profissionais da educação”, afirma Francisco Xavier, professor nos cursos de Administração, Ciências Contábeis e Engenharia de Produção. “Por outro lado, também traz grandes oportunidades. As pessoas estão buscando alternativas para dar continuidade aos estudos e isso é o mais importante”.
A adoção das plataformas na rotina dos estudos também contribui para que os futuros profissionais se adaptem à nova realidade que deve emergir nos próximos anos. Na área do Direito, por exemplo, audiências e outros procedimentos já estão sendo feitos de forma digital. “Nós entendemos que se a nossa vida profissional caminha para uma virtualização, o ensino também pode acompanhar essa dinâmica. Assim, essa metodologia de virtualizar as aulas tem sido muito produtiva”, ressalta a professora Cristina Malaski Almendanha.
Para Fabiano Arruda da Silva, coordenador do curso de Administração, é fundamental que os alunos tenham essa interação, uma vez que as tecnologias atuam como uma ponte entre a universidade e a realidade profissional. “Posteriormente isso gera autonomia neles, para que possam saber lidar com essas ferramentas, tendo em vista que o mercado de trabalho exige isso”.
Aulas especiais cuidam da saúde mental dos adolescentes
Com o isolamento social, a saúde mental dos estudantes — sobretudo na faixa dos 14 aos 17 anos — também gera preocupação aos educadores, uma vez que diversas atividades de interação social foram suspensas. Pensando nisso, o Colégio Positivo – Internacional recorreu às aulas de educação física, música e teatro para trabalhar o desempenho social, psicológico, intelectual e cognitivo dos alunos.
“A privação de todas essas situações aliadas à imprevisibilidade de quando tudo isso irá passar podem ser o gatilho para doenças mentais, como ansiedade e depressão”, afirma Michelle Norberto Martins, psicóloga da instituição. “Por isso a prática de atividades que quebrem essa rotina de afazeres, tragam leveza e prazer para a vida do adolescente, são tão importantes”.
Segundo a psicóloga, as aulas ajudam a melhorar a capacidade respiratória, a concentração, o humor, reduzem o estresse e a ansiedade, estimulam a memória, melhoram a postura e causam uma sensação prolongada de bem-estar.
Para Gino Fellipe Santoro, coordenador de Esportes e Cultura, a educação física também contribui para evitar o sedentarismo, comum durante o período de isolamento. “A pandemia levou a maior parte da população a ficar em casa, aumentando expressivamente os níveis de sedentarismo, que está relacionado ao aparecimento de inúmeras doenças, em qualquer idade. As aulas estão ajudando a manter os alunos ativos, garantindo mais energia para continuarem estudando”.
Estudantes mais preparados para enfrentar pandemia
De filosofia à matemática, dengue e coronavírus foram os temas escolhidos para serem trabalhados em 2020 pelos alunos do Ensino Médio do Colégio Positivo no Paraná e em Santa Catarina. Assim, antes mesmo da suspensão das aulas, cerca de 2,6 mil alunos, além dos professores, já estavam preparados para enfrentar a pandemia.
“É nítida a mudança de comportamento por parte dos alunos, a preocupação de estar sempre se higienizando, limpando as mãos e passando álcool”, afirma Eduardo Emmerick, professor e assessor pedagógico de Filosofia e Sociologia. “Acredito que a surpresa maior com esse trabalho é verificar que os alunos detêm um grau de consciência e repertório muito maior do que tínhamos no passado. Isso fortalece em casa e na sociedade, pois podem orientar muito melhor a todos”.
Enquanto na biologia são abordadas questões sobre epidemia, pandemia e endemia, sintomas, métodos de profilaxia, e como as doenças afetam a população, a matemática calcula a propagação viral. Da mesma forma, a química avalia os efeitos do álcool em gel e do sabão no vírus, e a física calcula o tempo de deslocamento de pacientes. Além disso, nas aulas de redação, os alunos também são incentivados a observar a linguagem utilizada nos textos, interpretando melhor os conteúdos, estão mais conscientes sobre o combate às fake news.
Festa Junina virtual com ação solidária para comunidade, colegas e professores
O período de isolamento tornou-se uma oportunidade para explorar ainda mais a criatividade. No Colégio Positivo, a tradicional festa junina aconteceu de forma virtual esse ano. Com transmissão ao vivo, o Arraial Junino promoveu momentos de alegria e muitas surpresas e reuniu mais de 10 mil famílias.
A festa teve dança, gincanas além de arrecadação de doações para a campanha “O amor contagia”, que tem o apoio do Colégio Positivo e Instituto Positivo. As doações irão compor um fundo de apoio às demandas emergenciais na área da saúde para hospitais do Paraná, além de ajudar ações de mais de 300 ONGs cadastradas. Para saber mais, basta acessar o site: http://www.funpar.ufpr.br/transparencia-covid19/.
Além da campanha divulgada na festa, alunos e professores do colégio protagonizaram uma ação de carinho nas redes sociais. Com o tema “Keep Positivo”, que faz alusão ao termo “keep positive” — mantenha-se positivo — a ideia é compartilhar vídeos e fotos com mensagens para colegas ou professores. Com isso, o perfil oficial da instituição faz a republicação dos conteúdos, atuando como um correio eletrônico para diminuir a distância no período. “As crianças e adolescentes adoraram rever os professores e, com isso, sentem-se motivados para a rotina de estudos, agora em casa”, afirma o diretor geral do Colégio Positivo, Celso Hartmann.
Tutoriais para alunos, pais e famílias
O Colégio Everest está em sua 14.ª semana de aulas online, uma vez que sequer parou entre o interrompimento das aulas e o início das atividades online. A equipe pedagógica da escola deu a assistência necessária aos professores para que as aulas fossem realizadas via Google Meet, com atividades postadas no Google Classroom. Desenvolvemos uma série de tutoriais para alunos, professores e famílias.
Foi dado início ao Painel de Boas Práticas Digitais, para o qual os professores enviam exemplos de como desenvolvem seu trabalho. Todos os vídeos são salvos numa playlist do YouTube, compartilhados internamente, e acessíveis a pessoas de fora da escola.
Para gerar momentos de discussão, o Colégio Everest incluiu oficinas no início do dia, às 8h, também com a função de compartilhar ideias, mas agora possibilitando o diálogo entre os participantes, que não era possível com os vídeos. As oficinas também são gravadas e os vídeos divulgados para os colaboradores que não podem participar.