Como superar dilemas para avaliar competências socioemocionais
Como avaliar o desenvolvimento de competências socioemocionais? Essa tarefa tem sido um desafio para educadores, escolas e até mesmo sistemas educacionais. Para o psicólogo e escritor norte-americano Daniel Goleman, isso acontece porque o modelo utilizado para medir habilidades de matemática, ciências ou idiomas é muito diferente do que deve ser adotado para inteligência emocional. “Precisamos de várias abordagens de avaliação”, destaca o autor do best-seller “Inteligência Emocional”, ao defender que esse processo seja composto por múltiplos métodos e olhares.
Durante o 2.° Congresso LIV Virtual, que foi realizado nos dias 16 e 17 e 18 de setembro, Goleman trouxe reflexões sobre alguns dos principais dilemas que envolvem o desenvolvimento e a avaliação de competências socioemocionais em estudantes. O primeiro deles é de que apesar de ser desejável ter um perfil de comportamento, pontos fortes e limitações dos estudantes, é muito arriscado atribuir uma nota ou criar um tipo de boletim para mensurar esse avanço. “Eu acho que isso vai contra um dos princípios básicos da educação socioemocional, que é uma aprendizagem em que os alunos sempre podem melhorar em qualquer aspecto”, diz.
O psicólogo e escritor norte-americano afirma que os estudantes estão em uma curva crescente de aprendizagem, portanto não é possível avaliar o desenvolvimento de competências socioemocionais com uma foto estática. “Se você avalia matemática, você dá uma prova para ver como o aluno se sai em uma divisão, em multiplicação ou em uma atividade de geometria. Se você está avaliando capacidades sociais ou emocionais, tem que que fazer perguntas do tipo: Esse aluno é gentil? Ele tem empatia? Ele está antenado com os outros alunos? Ele consegue controlar seus próprios impulsos? Ele se comporta bem? São séries bem diferentes de perguntas”, contrapõe Goleman.
Mas não basta apenas fazer perguntas diferentes, também é preciso adotar estratégias diferentes de avaliação. Para isso, ele sugere que sejam incorporados métodos que considerem múltiplas perspectivas de uma mesma pessoa, já que as crianças tendem a se comportar de formas diferentes quando estão com os professores, com os pais ou com os colegas. “Com adultos em uma empresa, você perguntaria para os outros como eles avaliam aquela pessoa. Talvez esse seja um modelo que também possa ser utilizado nas escolas. O professor tem um sentido, mas os outros alunos têm uma visão diferente de como aquele aluno se comporta ou lida com as suas emoções”, exemplifica.
Se por um lado a avaliação 360 graus pode ser uma estratégia preciosa para o processo de avaliação de competências, por outro, o psicólogo também questiona a eficiência da autoavaliação. “Quando trabalhamos com adultos, vemos que as pessoas que mais precisam se desenvolver, normalmente se veem como as mais perfeitas. Acho que isso tem a ver com a natureza humana, nós não vemos as coisas que não dominamos muito bem”, observa.
Outro cuidado que os educadores devem ter quando avaliam o desenvolvimento de competências é a forma como eles vão comunicar isso aos estudantes. “Para ser sincero, eu não sei nem se eu mostraria isso para as crianças. Eu acho que isso é para os professores e para os pais”, defende Goleman, ao explicar que o cérebro e o comportamento das crianças ainda se transforma muito até os 20 anos. “Entre 5 e 7 anos, há uma grande mudança na capacidade das crianças de controlar o impulso emocional. Se você fala para uma criança de 5 anos que ela não é muito boa nisso, com 8 anos ela pode ser muito boa. Não queremos que as crianças tenham um autodefinição de que sempre vão ser impulsivas”, diz.
Saúde mental e suicídio
No 2.° Congresso LIV Virtual, o autor norte-americano também falou sobre saúde mental e suicídio na adolescência. “Eu acho que as escolas podem dar às crianças uma mensagem errada ao torná-las tão competitivas com relação às provas educacionais. Isso pode ser algo que acione depressão e suicídio de forma precoce entre adolescentes.”
Para Goleman, a educação socioemocional também pode atuar na prevenção do suicídio, mas é importante que ela seja capaz de ajudar os estudantes a adotarem uma nova mentalidade. “Uma das ferramentas mais poderosas tem sido fazer as pessoas questionarem seu próprio pensamento”, sugere. Nesse processo, ele exemplifica que é diferente um aluno falar eu não sabe nada de matemática ou que não tirou uma boa nota, mas sabe que pode estudar para melhorar.
A mudança de mentalidade, no entanto, não tem a ver com o pensamento positivo. “Qual é a realidade desse aluno? Se for uma realidade negativa, de que ele não tem amigos e só tira notas ruins na escola, pensar sobre coisas positivas vai ser algo vazio. Acho que é melhor dizer: bom, vamos ver aonde você pode melhorar?”, indica Goleman.
Outros tópicos como formação de professores, empatia e o impacto da educação socioemocional ao longo da vida dos estudantes também foram abordados por Daniel Goleman durante o 2.° Con-gresso LIV Virtual.
Por Porvir