Reabertura das escolas não foi relevante para nova onda de covid na Europa, indicam estudos
Deu no Financial Times: as escolas não têm um papel relevante para a disseminação do Sars-Cov-2, o vírus da covid-19. É o que sugerem novos estudos realizados na Alemanha e na Noruega, além de revisões enfocando a educação de forma global.
Segundo análise publicada pelo Instituto de Economia do Trabalho (IZA, em alemão), o número de novos casos na Alemanha não aumentou quando as escolas foram reabertas em setembro, após as férias de verão. “Esse resultado certamente contrariou [as nossas expectativas]”, disse o economista Ingo Isphording, um dos autores do documento.
Além da Alemanha, Bélgica, Rússia, Polônia, Ucrânia e Inglaterra retomaram as aulas presenciais entre agosto e setembro. Entre os primeiros países do velho continente a reabrir as escolas estão Noruega e Dinamarca, em abril. Na França, o retorno ocorreu em julho.
O Instituto Nacional de saúde Pública da Noruega foi além: disse que, entre junho e outubro, uma análise de rastreamento do vírus mostrou que a maioria das infecções em estudantes ocorreu entre eles e adultos de suas famílias, e não entre colegas.
“As escolas deveriam ser importantes, visto que tantas redes se unem [lá] – com crianças, pais e vida social”, disse Gwen Knight, professora assistente da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, segundo o FT. “Mas o sinal não parece muito forte. Estamos achando muito difícil encontrar evidências diretas de transmissão dentro do ambiente escolar.”
Os especialistas atribuem o baixo nível de infecção a medidas de prevenção e protocolos de higiene, incluindo uso de máscara facial, bolhas de ensino (pequenas turmas fixas de estudantes), testes recorrentes e quarentena para alunos ou professores que forem diagnosticados com o vírus. Ou seja, levar para a sala de aula os mesmos cuidados que os estudantes mantêm fora dela.
A notícia surge como alento em meio ao aumento no número de infectados na Europa. Desde setembro, a transmissão do novo coronavírus se acelerou – superando, inclusive, a velocidade do contágio no começo da pandemia.
Mas, como mostrou esta reportagem da revista Veja, especialistas em saúde não classificam o aumento de ocorrências como uma segunda onda do vírus na Europa, “considerando que sua extensão e potencial de estrago não se equiparam à violência do princípio”.
O número de mortes, afinal, não cresceu: no pico da crise, a média diária de óbitos na Europa girava em torno de 2.130; no começo de outubro, era 185.
Esse contexto (mais casos, menos mortes) decorre de algumas razões, entre elas a evolução da medicina, o aumento da testagem e o fato de que o crescimento no número de infectados se concentra em regiões da Europa inicialmente poupadas, como áreas da Itália e países como Polônia e República Tcheca.
Reabertura e aumento de casos
A pandemia fechou escolas em 191 países. No total, 1,5 bilhão de estudantes chegaram a ficar com aulas suspensas ou reconfiguradas – o que representa mais de 90% de todos os estudantes do planeta, segundo atualização realizada pela Unesco, órgão da ONU para educação e cultura.
Nos últimos meses, além da Europa e da Ásia (primeiro continente a reabrir as escolas), as aulas foram retomadas em quase todos os países, inclusive no Brasil.
Cabe lembrar, porém, que nem todo retorno às aulas presenciais foi exitoso em termos sanitários. Nos Estados Unidos, diversos distritos escolares viram o número de casos aumentar após a reabertura.
A lição mais dura talvez tenha sido para Israel, que flexibilizou a quarentena em maio e semanas depois chegou a suspender a obrigação do uso de máscaras por conta de uma onda de calor. Foi o suficiente para dois casos de covid-19 se transformarem em 200, entre alunos, funcionários e familiares. Então o país voltou atrás e fechou novamente mais de 120 escolas e 250 creches.
Por Desafios da Educação