Com escolas fechadas, saúde mental de estudantes despenca nos EUA
A saúde mental de crianças e adolescentes foi seriamente afetada pelo fechamento das escolas nos Estados Unidos em decorrência da pandemia de Covid-19, revelou um levantamento realizado pela agência de notícias Reuters.
Entre os 74 distritos que responderam à pesquisa – e que, somados, atendem a 2,2 milhões de estudantes – 74% relataram “vários indicadores de maior estresse à saúde mental entre os alunos” e mais da metade informou que os encaminhamentos e aconselhamento de saúde mental aumentaram. Alta incidência de faltas e desinteresse escolar, que também são medidas usadas entender o nível de saúde mental das turmas, foram relatadas com mais frequência em 90% dos distritos pesquisados. Segundo a Reuters, a ausência do ensino presencial foi a principal causa para o aumento destes sinais de alerta em vários destes locais.
Os dados são referentes ao mês passado, quando apenas 42% de todos os estudantes dos EUA, da pré-escola ao ensino médio, estavam frequentando as aulas presencialmente nos cinco dias da semana, segundo o monitor escolar Burbio. O restante estava tendo aulas somente pela internet (31%) ou no regime híbrido, com aulas presenciais em dois ou três dias da semana (26%).
A reabertura das escolas está acontecendo de forma descompassada nos Estados Unidos. Na Flórida, por exemplo, as aulas presenciais foram retomadas há sete meses e agora praticamente todos os alunos já estão frequentando a escola normalmente. O mesmo ocorre em Wyoming, Montana e Iowa. Por outro lado, na Califórnia, o estado com mais restrições ao retorno das aulas, menos de 15% dos estudantes voltaram definitivamente para as salas de aula. Oregon, Maryland e Novo México também têm menos de 25% dos estudantes em aulas presenciais.
Embora haja preocupação com a propagação do novo coronavírus por parte de pais, professores, diretores e sindicatos docentes, estudos têm mostrado que a reabertura das escolas não causa um aumento de casos de Covid-19 se observado o uso de máscara, o distanciamento social e a higienização das mãos.
O próprio CDC (Centro de Prevenção e Controle de Doenças) dos EUA afirmou em um relatório recente que, embora ocorram casos de Covid-19 no ambiente escolar, não há um risco aumentado de propagação do vírus. Ou seja, se houver estratégias de mitigação, é muito difícil que as escolas se tornem centros de proliferação do coronavírus, que venham a aumentar os casos de Covid-19 acima da média da transmissão local. Isso foi observado na cidade de Buenos Aires, na Argentina, onde as aulas foram retomadas há um mês e, neste período, o nível de contágio permaneceu o mesmo. O mesmo ocorreu na Flórida.
Em Rhode Island, onde 71% dos estudantes voltaram às aulas presenciais, funcionários da educação do estado descobriram algo interessante, segundo contou a Reuters: os alunos que estavam aprendendo remotamente tinham mais chances de testar positivo para Covid-19 do que os que estavam frequentando a escola.
Quando os casos da doença aumentaram no estado no fim do ano passado e alguns distritos começaram a adotar aulas virtuais, a governadora Gina Raimondo, democrata, fez um pronunciamento público para defender que as escolas continuassem abertas. “Para aqueles de vocês que estão jogando a toalha e [adotando o ensino] virtual: eu acho que é uma vergonha. Eu realmente acho. Vocês estão decepcionando as crianças e não vejo nenhuma razão para isso”.
Nos EUA, o alerta sobre os efeitos de longo prazo do ensino remoto já havia sido feito em meados do ano passado, pela Academia Americana de Pediatria, citando riscos de longo prazo para a saúde emocional e para o aprendizado.
Em entrevista à Reuters, funcionários de distritos educacionais contaram sobre casos de estudantes com depressão, distúrbios alimentares ou sofrendo abusos emocionais, físicos e sexuais, os quais poderiam ter sido identificados com mais facilidade pelos professores caso esses alunos estivessem frequentando as aulas presencialmente. Alguns distritos relataram aumento de suicídios entre os estudantes.
Felizmente, as perspectivas para uma reabertura abrangente das escolas nos EUA são boas. Com os casos de Covid-19 e mortes pela doença em queda e a campanha de vacinação contra o coronavírus acelerando – 22% da população já foi vacinada com ao menos uma dose – o CDC revisou nesta sexta-feira (19) as regras de distanciamento dentro das salas de aula, incentivando que as escolas acolham mais alunos no ensino presencial. O governo do presidente Joe Biden prevê que a maioria das escolas americanas seja reaberta até maio.
Por: Gazeta do Povo