Sem rosto e sem festa, calouros da pandemia perdem vida universitária
Entrar na universidade em 2021 é passar na USP e não sentir o sol queimar a pele na Praça do Relógio. Fazer o curso de direito no Largo São Francisco sem sentar sob as arcadas. Ingressar na PUC-SP sem encontrar a turma no Pátio da Cruz. Ou na Unicamp sem comer no bandejão e ver o pôr do sol do Observatório.
Não foi só das aulas presenciais que o coronavírus privou os estudantes que ingressaram na universidade no meio da pandemia.
Sem festa, sem conversa de corredor e muitas vezes sem rosto, já que boa parte das câmeras fica desligada nas aulas, é a própria vivência universitária que os alunos que agora entram direto no ensino remoto perdem.
Maria Bento Sarques, 18, vai começar o bacharelado em têxtil e moda na USP sem sair de sua casa em Goiânia, a mais de 900 quilômetros do campus da universidade na zona leste de São Paulo.
“Já tive o terceiro ano do ensino médio sem poder me despedir da escola. Agora passei na USP e não fui pintada [no trote], não pude festejar direito. Espero compensar depois”, diz.
Devido à necessidade de distanciamento social, fundamental para conter a disseminação descontrolada do vírus, a USP fará neste ano pela primeira vez a recepção dos calouros 100% online. A Unicamp também. Para tentar dar maior concretude à chegada dos estudantes, professores da universidade de Campinas foram às unidades para fazer vídeos das instalações e mostrar a eles.
Mas reproduzir totalmente o ambiente do campus é impossível. “Perde-se a convivência, a hora do cafezinho, o inesperado”, diz Eliana Amaral, pró-reitora de Graduação. “Estar na universidade é almoçar com alguém de engenharia mecânica e de repente conhecer alguém do curso de música que sentou ao lado”, exemplifica.
Por: Uol