Colégios tentam segurar estudantes com descontos e novos serviços
Para contornar a crise, instituições diminuem mensalidade e oferecem consulta com nutricionista e psicólogo
Para evitar a perda de alunos durante a pandemia —e atrair novos estudantes na retomada — escolas particulares de São Paulo lançam mão de várias estratégias, sejam elas financeiras, como descontos, ou voltadas para o bem-estar do estudante, ainda que remotamente.
Na rede particular, a queda no número de matrículas foi mais sentida na educação infantil, uma vez que é mais difícil dar aulas a distância para alunos de menos de seis anos.
Na escola Tarsila do Amaral, na zona norte, que trabalha com essa faixa etária, o estrago foi grande no início da pandemia. “Quando fechamos, no começo de 2020, de cara perdemos 45% dos alunos”, conta Danyelle Marchini, dona e diretora da escola.
Nos meses seguintes, maio, junho e julho, o colégio deu 30% de desconto na mensalidade. Depois, em agosto e setembro, aumentou para 50%. E, quando as aulas ensaiaram um retorno, em outubro, congelou a mensalidade, além de não cobrar pelos meses de férias de 2021, dezembro e julho.
“Foi uma forma de gratidão aos pais que resolveram ficar. Me coloquei no lugar deles. É difícil fazer com que crianças pequenas interajam remotamente, atrás de uma tela, e mesmo assim muitos quiseram ficar e até pagar a mensalidade cheia”, relembra.
Além disso, a Tarsila do Amaral disponibilizou remotamente serviços que vão além da educação, entre eles consulta com nutricionista. A escola manteve o quadro de funcionários durante a crise.
Hoje, há uma retomada dos estudantes, mas ainda tímida. O número total segue cerca de 20% inferior a 2019. Na pandemia, a escola também passou a atender o público do fundamental 1 (entre 6 e 10 anos).
No Arquidiocesano, na zona sul da capital, a coordenadora de educação infantil e primeiro ano Márcia Sayoko Nanaka, 45, conta que uma preocupação da escola foi olhar para as crianças —e para seus pais— de maneira individual.
Nas atividades remotas, a escola limitou o tempo de tela das crianças a no máximo uma hora por dia. “As crianças não estavam acostumadas, então houve atendimento personalizado”, diz Nanaka.
A customização no atendimento também se estendeu aos pais. “Mantivemos diálogo entre família, coordenação e orientação. Descontos na mensalidade, por exemplo, foram dados de acordo com o caso, entre 10% e 30%.”
Na educação infantil, o Arqui perdeu 26 alunos durante a pandemia. Mais ou menos 10% do total.
Pouco antes da retomada das aulas presenciais, o corpo docente do Arquidiocesano visitou a casa de todos os alunos, obviamente seguindo os protocolos contra o coronavírus. “Foi uma forma de acolher, minimizar o sofrimento deles e fortalecer o vínculo com os professores”, diz a coordenadora Márcia Nanaka.
O colégio hoje vê uma retomada. No ensino infantil, a escola ganhou 30 novos alunos desde julho. No total, o Arqui tem 2.800 estudantes.
Na Sphere International School, em São José dos Campos (a 91 km de São Paulo), cerca de 90% dos alunos que saíram durante a crise retornaram. De novo, a grande maioria do ensino infantil.
“Remotamente, fizemos lives com psicólogos, com técnicos de informática para falar de segurança digital, tivemos também psicólogos para nossos colaboradores”, conta Cristiane Angélica Maria, orientadora educacional.
Entre os mais velhos, se não houve muitas redução no número de alunos, o trabalho psicológico foi importante. “Houve quem desenvolveu questões como depressão e crise de ansiedade. Trabalhamos com a família e indicamos profissionais”, diz Cristiane.
A escola deu desconto nas mensalidades, mas optou por não congelá-las. “Os pais viram o nosso esforço para que o trabalho, as avaliações, os projetos continuassem”, diz Wellington Nunes Souza, coordenador do ensino médio.
Para o Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo), associação que reúne 11 mil escolas particulares paulistas, a tendência é que, com a retomada, a rede privada reabsorva estudantes.
“O aluno que estuda na escola particular só sai se realmente os pais não tiverem condições de pagar. Se tiverem, ele volta”, diz Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do sindicato. Ele destaca que o número de alunos nas particulares aumenta desde 2000, em praticamente todos os anos.
Segundo Ribeiro, o Sieeesp orientou todas as suas associadas que não cobrassem mensalidade caso não conseguissem prestar o serviço. De acordo com a entidade, cerca de 30% das escolas do estado, a grande maioria de educação infantil, não resistiram à pandemia e fecharam as portas.
Por: Folha de S.Paulo