Como estabelecer acordos para trabalhos em grupo que funcionam

Publicado por Sinepe/PR em

Quando os estudantes participam desde a divisão do grupo até a definição das regras, eles se sentem propensos a se engajar mais em todas as etapas do trabalho

Evitada por alguns, amada por outros, a proposta de trabalhos em grupo pode ser bastante polêmica, mas também muito eficiente. Todo professor ou professora já deve ter vivenciado boas experiências ao desenvolver uma abordagem nesse sentido e, também, encontrado algumas dificuldades, seja por questões como a divisão de grupos, seja por aspectos de engajamento.

Não se trata de uma abordagem nova, mas nunca foi tão necessária. Estudantes que eventualmente se sentiriam intimidados ao manifestar sua opinião diante de toda a classe – e receber comentários indesejáveis – podem encontrar em pequenos grupos a chance de liderar uma proposta de intervenção na comunidade, uma pesquisa ou um artigo opinativo assinado em conjunto.

Abaixo, você encontra recomendações para que o trabalho em grupo seja realmente colaborativo, em vez de um conjunto de pessoas trabalhando isoladamente. Espalhar mesas e cadeiras, criar salas virtuais, não é tudo. Quanto mais necessários forem uns aos outros para o sucesso do grupo como um todo, maior é a chance de envolvimento contínuo dos estudantes. Para que isso aconteça, os objetivos de aprendizagem devem estar claros e os interesses e conhecimentos prévios dos estudantes levados em conta na hora do planejamento pedagógico.

Melhor estrutura para um trabalho em grupo
E como ampliar os bons resultados do trabalho em equipe? Ellen Regina Barbosa, professora de física e designer de experiências em aprendizagem criativa, articuladora no núcleo regional da RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa) em Mato Grosso do Sul, avalia que um dos principais pontos de atenção é combinar de forma clara com a turma o que será feito e de que forma o trabalho vai ocorrer. “Nós construímos regras junto com eles”, conta. É uma estratégia que facilita a questão do comprometimento, visto que os alunos reconhecem ser autores das regras e, portanto, sentem-se mais empenhados em cumpri-las.

Quando os estudantes têm essa dimensão do que podem esperar ou não, eles tendem a se engajar mais. Uma das estratégias usadas por Ellen é trabalhar com grupos de até cinco pessoas, incentivando-as a olhar para as próprias habilidades no momento de formação dos grupos.

“Dependendo do que nós queremos fazer, podemos separá-los por afinidade ou pelo tema. Podemos sugerir um assunto que eles possam se unir pelo interesse”, diz a professora. Ainda é possível estimular a turma a reconhecer as próprias habilidades e no que cada um se considera melhor.

Natália Coelho Miranda, que dá aulas de história na rede particular de ensino de Belo Horizonte (MG) e recentemente teve uma de suas práticas de trabalho em equipe publicada aqui no Porvir, concorda com Ellen. “Otrabalho em grupo promove aprendizagem entre os pares a partir do momento em que os alunos passam a ter a oportunidade de construir e compartilhar conhecimentos. Acredito que o ganho maior esteja no desenvolvimento das habilidades socioemocionais ligadas ao relacionamento interpessoal como a escuta, empatia, respeito, comunicação e cooperação”, comenta.

Administração de conflitos
A questão interpessoal pode, de fato, ser um outro ponto bastante importante quando se pensa em fazer trabalhos em grupos. “Os conflitos em grupos existem e vão surgir em algum momento da aula. Afinal, os alunos estão aprendendo a se comunicar e ouvir o outro”, conta Natália.

Quais são boas estratégias para lidar com as possíveis desavenças? Vale lembrar que uma boa mediação dos professores pode incentivar o protagonismo desses jovens.

“Quando um conflito surge em sala de aula, procuro escutar os alunos e tentar entender o motivo para depois intervir. Também prefiro observar o conflito a distância, ver se serão capazes de resolvê-lo de forma autônoma e intervir somente quando necessário. Em alguns momentos, peço a ajuda de um aluno que se comunica facilmente com os pares para ajudar na harmonização da equipe”, sugere Natália.

Ellen relembra que a sala de aula é sempre “uma caixinha de surpresas”, e que, por vezes, os professores e professoras precisam adaptar suas estratégias de mediação de conflitos. “O mais importante quando é dar essa oportunidade para que conversem sobre qual foi o problema, o por que chegaram nesse atrito, e o que cada um pode se responsabilizar por fazer a partir dali.” No vídeo a seguir, Giovanna Verão, ex-aluna de Ellen, comenta as vantagens dessa aprendizagem mão na massa e coletiva.

Avaliação

Muitos educadores que investem em trabalhos em grupo ainda derrapam no momento de escolher a melhor forma de avaliação. Quais seriam boas opções?

No caso da professora Natália, quando a avaliação é feita por notas, ela cria uma rubrica e compartilha os critérios de correção com a turma. “Dessa maneira, eles já sabem o que é esperado em relação à produção e o que o grupo deverá fazer para entregar a tarefa de acordo com a proposta entregue.”

O aspecto socioemocional também é considerado de maneira individual nas avaliações. Assim, é possível avaliar de forma mais atenta como foi o processo de cooperação, escuta e comunicação. “Ele propôs soluções? Se mostrou disposto a colaborar? Precisa de ajuda para conseguir colaborar? Não se envolveu na proposta? Soube ouvir ou impôr suas ideias?” são perguntas que Natália costuma fazer.

Suas turmas gostam bastante desse tipo de trabalho, principalmente pela possibilidade de interação entre os colegas. “Não apenas por poder conversar, trocar ideias, mas por sair do formato tradicional de se assentar em fileiras e ouvir o professor. As atividades em grupos geralmente são mais desafiadoras e permitem que eles exerçam escolhas e a criatividade”, avalia Natália.

7 dicas para trabalhar em grupo

1- Inicie as atividades criando combinados com a turma
2 – Explique quais serão as regras e pergunte quais outras gostariam de acrescentar
3 – Foque na habilidade ou na competência que você quer desenvolver naquele momento
4 – Dê oportunidade aos alunos para expressar suas preferências
5 – Separe a turma em grupos por afinidades de temas
6 – Dê espaço para que eles percebam as próprias habilidades e onde podem atuar melhor
7 – Incentive que os estudantes discutam sobre as próprias dificuldades em grupo

Por: Por Vir