Educação cresce no Brasil, mas economia é crucial para aproveitar avanços, dizem economistas
Seminário realizado pela Folha e Ibre-FGV debate ensino e desenvolvimento; confira íntegra
A educação no Brasil fez progressos importantes ao colocar mais alunos na escola e ampliar os anos de estudo da população, mas é falha em termos de qualidade e inclusão produtiva. Sem crescimento econômico e estabilidade fiscal, o país também continuará patinando para aproveitar os avanços dos últimos anos na área.
A conclusão é de pesquisadores que debateram o tema no seminário online promovido pela Folha e o Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) “O papel da educação no desenvolvimento”.
Participaram os economistas Fernando Veloso, coordenador do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, do Ibre-FGV, Samuel Pessôa, pesquisador associado do FGV-Ibre, e Thomas Kang, professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com mediação do repórter especial da Folha Fernando Canzian.
O Observatório da Produtividade Regis Bonelli acaba de disponibilizar em seu site (aberto ao público) dados completos das últimas décadas sobre os avanços do ensino no país, que mostram a melhora e os desafios no setor.
Segundo Pessôa, durante muito tempo o Brasil acreditou que o desenvolvimento viria da acumulação de capital produtivo, e que o aumento da educação seria consequência desse processo. Hoje, afirma, tem-se clareza de que é a educação que deve ser prioridade.
Mas, apesar do aumento nos anos de estudo e da inclusão de mais brasileiros no sistema educacional, o quadro macroeconômico do país não vem abrindo oportunidades a quem estuda mais, e torna-se fundamental estabilizá-lo para que o Brasil e seus estudantes possam aproveitar os avanços.
Em termos de qualidade, Pessôa afirma que a educação poderia se espelhar no que ocorreu na saúde, onde organizações sociais (OS, com participação privada) ajudaram a incrementar o atendimento. Ele também diz que existe um “certo preconceito” em relação ao ensino técnico, o que leva muitos jovens a cursar o ensino superior em áreas em que muitas vezes não obtêm colocação depois.
Para Veloso, apesar das dificuldades, o Brasil avançou muito na área. Segundo ele, até 1992, 2/3 da população ocupada não tinha sequer o ensino fundamental completo. Hoje, 2/3 têm o ensino médio completo. Sem esse avanço, estima, a informalidade no trabalho no país seria hoje cerca de 15% maior. “O problema é que o aumento da educação tem enfrentado um ambiente econômico extremamente inóspito nos últimos anos”, afirma
Segundo Kang, um dos problemas da educação brasileira é que durante muito tempo privilegiou-se o ensino superior em detrimento do fundamental, básico e médio, o que vem mudando nos últimos anos. Ele afirma, no entanto, que é difícil esperar saltos na qualidade quando o país tem um passado relativamente recente de baixo nível educacional.
Por: Folha de S. Paulo