Modalidade não importa; qualidade, sim
Para o Conselho Nacional de Educação, os cursos de pedagogia e as licenciaturas terão de ser ofertados com 50% de carga horária presencial
Foi estabelecido pelo Conselho Nacional da Educação (CNE) que os cursos de pedagogia e as licenciaturas terão de ser ofertados com 50% de carga horária presencial. Para o vice-presidente acadêmico da Vitru Educação, Janes Fidélis, a decisão é uma chance de se discutir o que é presencialidade e ensino a distância. “É uma oportunidade de repensarmos a relação entre teoria e prática, de discutir melhor o que é um espaço de presencialidade e quando ela garante uma aprendizagem efetiva”, pondera. A medida ainda passará pelo ministro da Educação, Camilo Santana.
Fidélis também enxerga a situação como um momento propício para compreender as atividades a distância, bem como os recursos e metodologias necessários para garantir qualidade na oferta. “Tudo isso está em uma direção de esclarecimento mas carece de estudos, debates e consensos para que não vire uma tabela dinâmica de entendimentos”, pontua.
Lúcia Teixeira, presidente do Semesp, corrobora com o ponto de vista. Para a educadora, é preciso verificar a qualidade das atuais atividades para entender se elas são funcionais para a formação do professor. “Se elas estão sendo feitas de forma a propiciar a interação e a formação desse aluno, são importantes. Não adianta aumentar o número de horas exigidas se não houver qualidade no que é oferecido. É preciso avaliar se alguma IES não está oferecendo qualidade antes de se pensar em qualquer mudança”, salienta.
Uma formação para o mundo atual
“Embora a formação de professores seja crucial para elevar a qualidade do ensino no país, é importante lembrar que estamos preparando esses profissionais para atuar em um ambiente educacional que cada vez mais inclui o EAD”, ressalta Luciana Maia Campos Machado, superintendente acadêmica da FIPECAFI.
A profissional reconhece a preocupação com a qualidade dos cursos. “No entanto, não creio que o problema de qualidade esteja exclusivamente ligado à modalidade.” Luciana também destaca a existência de cursos EAD que, devido a utilização de metodologias adequadas, proporcionam uma formação sólida.
“Os professores precisam estar capacitados para lecionar de forma remota, e não há nada melhor do que vivenciar o processo de ensino-aprendizagem nesse formato para estarem prontos para esse novo cenário. Afinal, o EAD veio para ficar”, declara.
Na análise da superintendente acadêmica, o perfil dos alunos que buscam cursos de formação para o magistério é um aspecto importante a ser considerado. Em um gráfico feito para a Ensino Superior (veja abaixo) com base nos dados do último Censo da Educação Superior do Inep, é apresentada uma diferença significativa na distribuição etária dos ingressantes entre os cursos de formação de professores e os demais cursos. “Os ingressantes nos cursos de formação docente tendem a ser mais maduros: 50% têm 30 anos ou mais, enquanto nos demais cursos, apenas 36% iniciam a formação nessa faixa etária”, observa.
“O público mais maduro geralmente se adapta muito bem ao ensino a distância e, muitas vezes, está em busca de uma segunda formação, não necessariamente interessado em frequentar aulas presenciais em tempo integral. Esse público valoriza a flexibilidade e possui disciplina para estudar de forma autônoma. Na FIPECAFI, nossa experiência com um público executivo de faixa etária semelhante tem sido extremamente positiva em termos de qualidade”, explica Luciana.
Para Janes Fidélis, não se trata apenas da presencialidade, mas do compromisso e da identidade pedagógica das instituições de ensino. “Com efetiva clareza do desdobramento do processo de aprendizagem. Presencialidade não é sinônimo de qualidade. Agora, sugerir que o estudante tenha um maior conjunto de vivências práticas, com metodologias e tecnologias para o exercício da docência, é um requisito importante que, independentemente da legislação, as IES comprometidas vão prever.”
Luciana defende que o EAD deve ser acompanhado e avaliado rigorosamente para garantir a qualidade dos programas autorizados. “No entanto, a restrição não parece ser a melhor abordagem. Em vez disso, é essencial implementar mecanismos eficazes de monitoramento e avaliação, garantindo que os padrões de qualidade sejam mantidos e que os alunos recebam uma educação de alto nível, independentemente da modalidade de ensino.”
Por: Revista Ensino Superior