Universidade do futuro é sustentável e a prática é agora
IES referências em sustentabilidade organizam programa de capacitação para docentes na Universidade Corporativa Semesp
No atual contexto mercadológico e social, quem não olha para a sustentabilidade fica para trás. Integrar o pilar sustentável é tarefa fundamental para qualquer organização, seja ela uma empresa ou instituição de ensino. Na Fundação Hermínio Ometto (FHO), localizada no município de Araras, em São Paulo, essa implementação não é recente, faz parte do DNA. “Não tem como pensar em um mundo melhor e desvincular a questão da sustentabilidade”, afirma o reitor José Antonio Mendes. Referência no tema, a FHO foi uma das responsáveis pelo desenvolvimento do “Programa online de sustentabilidade para docentes”, curso da Universidade Corporativa Semesp que visa semear práticas sustentáveis em mais instituições.
Para Mendes, trabalhar a sustentabilidade é uma obrigação das IES, mas existe ainda, no ensino superior, uma lacuna nessa abordagem. “É preciso trazer a sustentabilidade para dentro das instituições de ensino e fazer com que as pessoas que passam por elas, especialmente os alunos, reflitam e levem os exemplos praticados para frente, para o mercado profissional, independentemente da área em que vão atuar”, pontua.
A abordagem deve considerar o “tripé da sustentabilidade”, que envolve o aspecto social, ambiental e econômico. Na FHO, os três eixos são difundidos nas mais variadas ações, como o projeto de extensão carbono zero, que promove a neutralização do carbono emitido durante os eventos institucionais, o crédito estudantil que viabiliza bolsas de estudos para os alunos, e o plantio de árvores no campus. No âmbito acadêmico, a disciplina de sustentabilidade foi implementada no primeiro e no segundo período de todos os cursos ofertados. “A disciplina trabalha em cima dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É um caminho para garantir que todos os alunos tenham esse contato inicial com o tema”, acrescenta Mendes.
As atividades de cunho sustentável são capitaneadas pelo escritório de sustentabilidade da instituição, fundado em 2021 para emplacar essa vertente. “O escritório dirige todas as atividades ligadas à sustentabilidade que são desenvolvidas dentro do campus. Essas ações vão se espalhando, partem da mantenedora e são difundidas até chegar aos alunos.” Em 2023, a atuação da FHO foi reconhecida pelo UI GreenMetric – programa da Universidade da Indonésia que avalia o desempenho das IES ao redor do mundo com base no comprometimento com a sustentabilidade –, entrando para o ranking das instituições particulares de ensino superior mais sustentáveis do Brasil.
Cooperação sustentável
Dividida em três grupos de trabalho – pesquisa, socioambiental e ensino – a rede de sustentabilidade do Semesp reúne instituições que trabalham em conjunto para garantir uma abordagem sustentável. No grupo de trabalho voltado para o ensino, José Antonio Mendes foi um dos responsáveis pela organização do “Programa online de sustentabilidade para docentes”, oferecido pela Universidade Corporativa Semesp. Com dois módulos disponíveis, o programa surge como alternativa para que as práticas sustentáveis sejam disseminadas em mais instituições.
Para Vitor Belota, head de sustentabilidade e educação inovadora da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), o curso é uma oportunidade para que educadores compreendam de maneira mais aprofundada a agenda 2030 da ONU e as pautas de ESG, e “dentro de seus contextos locais, da disciplina e do currículo em que estão inseridos, possam levar a sustentabilidade para a sala de aula.”
Com 10 horas de duração, o primeiro módulo – Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável – é apresentado por Estela Cristina Vieira de Siqueira, professora e pesquisadora no Centro Universitário do Sul de Minas (UNIS). “Estela aborda a evolução histórica, conceitos da sustentabilidade e faz uma retrospectiva dos movimentos dessa área. Ela também fala sobre a importância da ONU e dos ODS, passando pelos 17 objetivos. E finaliza com o cenário brasileiro”, lista Mendes.
Já o segundo módulo – Sustentabilidade nas organizações – comandado por Vitor Belota, ao lado de Francisco Eliseo Fernandes Sanches, diretor administrativo-financeiro da FHO, visa fornecer conceitos mais gerais de como a sustentabilidade está relacionada com as organizações, além de abordar a nova economia.
“Temos mais dois módulos em fase de desenvolvimento. O terceiro trará a incorporação da sustentabilidade nas IES e o quarto trabalhará o papel da docência”, adianta Mendes. Organizados em vídeo-aulas assíncronas, os dois módulos iniciais poderão ser cursados até o dia 30 de dezembro de 2024.
Emergência climática
“Vivemos o momento de maior crise climática e abismo de desigualdade social da história. Precisamos da mobilização de todos os setores para que possamos, de fato, desviar o rumo desse navio para um caminho mais sustentável e regenerativo”, alerta o head de sustentabilidade e educação inovadora da Facens.
Para Vitor Belota, a academia tem papel crucial nesse processo, embora muitas vezes isso não seja colocado em pauta. “Não adianta exigirmos do mercado de trabalho ou do governo se essas pessoas também são previamente formadas pela academia. Devemos pensar no conteúdo e no conhecimento ofertado para que as pessoas saiam de suas formações mais preparadas para lidar com esses desafios, seja no primeiro, segundo ou terceiro setor”, defende.
Assim como a FHO, a Facens marcou presença nos rankings de sustentabilidade do UI GreenMetric. O destaque, segundo Belota, é um reconhecimento vindouro da diversidade de ações sustentáveis conduzidas pela IES. “Toda energia que consumimos é oriunda de fontes renováveis e 15% são produzidas por nós, por meio de placas solares alocadas no campus. Nós ainda caminhamos rumo ao lixo zero, pois hoje já desviamos de aterros sanitários cerca de 70% dos nossos resíduos, sendo que a média brasileira é de 4% e, até o final do ano, a expectativa é que passemos a desviar 90%”, elenca.
Além do curso ofertado na UC Semesp, a Facens conta ainda com programas de capacitação interna. No dia 23 de agosto deste ano, a instituição lançou o programa Regenerar, em parceria com a organização Capitalismo Consciente Brasil (CCB). “Temos uma universidade corporativa com diversas temáticas e o Regenerar se tornou obrigatório para todos os funcionários, docentes e administrativos.” O curso visa apoiar a transição para uma economia e cultura mais sustentáveis e regenerativas.
“Numa era de tamanha transparência, com paredes e tetos de vidro, as organizações são enxergadas em todos os aspectos. Os melhores professores encontrados hoje estão conectados com a sustentabilidade e entendem a urgência dessa temática. Se a organização não dá espaço ou não olha para isso, os bons professores não vão ficar. E, consequentemente, os bons alunos que buscam IES atualizadas e conectadas também não buscarão instituições mais arcaicas, que não olham para o que é preciso. Sem dúvida alguma, as IES que não olharem urgentemente para essa pauta ficarão muito para trás no mercado”, pondera Belota.
Por: Revista Ensino Superior