Neuroeducação: transformando a maneira de aprender
Ao se dedicar a compreender a relação entre o funcionamento dos processos cognitivos e emocionais e o aprendizado, a neuroeducação oferece uma gama de possibilidades
O que acontece no cérebro quando o aluno aprende algo novo? Como ampliamos o repertório de experiências e conhecimentos dos estudantes? Quais são as estratégias que mobilizam o potencial cerebral?
Refletir sobre estas questões evidencia um dos maiores talentos de toda nossa espécie – a capacidade de aprender.
Vale pensar no fato de que tudo o que conhecemos do mundo não nos foi herdado pelos nossos genes – tivemos que aprender a partir do ambiente que nos cerca. E é na capacidade de aprender e produzir novos saberes que está alicerçada toda a história.
Fazer fogo, projetar instrumentos, plantar, construir, explorar e tantas atividades que garantiram a constante reinvenção da própria humanidade tem a sua raiz na extraordinária capacidade cerebral que permitiu formular hipóteses, selecionar aquelas que combinaram com o nosso ambiente e tornar uma realidade.
Para que a aprendizagem seja bem-sucedida, o cérebro humano deve ter três funções importantes: memória de trabalho para reter informações temporariamente, controle inibitório para resistir a distrações e manter o foco, e flexibilidade cognitiva para adaptar práticas a diferentes contextos e solucionar problemas.
Nesse cenário, a neuroeducação surge como uma área que se dedica a compreender o intrincado funcionamento dos processos cognitivos e emocionais e a sua estreita relação com o processo de aprendizagem. Ela oferece aos docentes uma perspectiva mais aprofundada e enriquecedora, além de uma ampla gama de possibilidades, visando potencializar ao máximo a capacidade de aprendizagem dos estudantes no âmbito da educação superior.
Para facilitar o aprendizado dos alunos, selecionei três estratégias fundamentadas na neuroeducação que irão ajudá-los a melhorar o desempenho cognitivo.
1 – Mobilize o pensamento
Já parou para pensar o motivo pelo qual os professores fazem tantas perguntas em suas aulas? São as boas perguntas que impulsionam novos aprendizados. Para mobilizar o aprendizado, construir compreensão, obter informações e encorajar a reflexão, é fundamental que você seja capaz de pensar sobre as possíveis respostas, conectá-las com seu repertório e realizar novas perguntas cada vez mais qualificadas e contributivas para o processo de aprendizagem, apropriando-se de novos saberes, pois como já afirmava Albert Einstein, “Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas…”
Quando os estudantes buscam respostas para as questões lançadas pelos professores, inicia-se a busca de informações no repertório existente, afinal, o cérebro é responsável por processar e interpretar as informações. Para trazer tais respostas, os neurônios se comunicam e interagem em uma série de processos complexos para realizar a tarefa cognitiva.
Isso significa que, ao tentarmos responder a perguntas, mobilizamos o nosso processo sináptico. Os neurônios se comunicam e interagem para realizar uma série de processos cognitivos complexos, incluindo a busca e recuperação de informações relevantes e a formulação de uma resposta precisa. Quanto maior o poder de reflexão que uma pergunta apresenta, mais qualidade na movimentação das sinapses podemos gerar. Mais movimento sináptico maior é o fortalecimento das rotas neurais.
Por isso é importante elaborar perguntas orientadas que fujam de respostas muito simples, como sim ou não. Faça perguntas aos estudantes que os encorajem a pensar sobre o próprio processo de aprendizagem. Quer um exemplo? Em vez de simplesmente questionar “Qual é a resposta para essa pergunta?”, tente “Como você chegou a essa resposta?” ou ao invés de “entenderam o conteúdo?” procure, “Considerando os pontos apresentados, quais estão lhe fascinando/intrigando até o momento?”. Certamente estes modelos de questionamentos ajudarão os estudantes a refletirem sobre seus próprios pensamentos e ajudá-los a ampliar o repertório de experiências e conhecimentos dos estudantes.
2 – Incorpore a emoção na aprendizagem
Foi Platão quem disse “Todo aprendizado tem uma base emocional”. A neurociência demonstra que a emoção vem desempenhando um papel fundamental no aprendizado, portanto, ativar a emoção dos estudantes é uma tarefa crucial para aumentar a motivação, engajamento e consequentemente a apropriação do conhecimento.
Algumas estratégias que podem ser utilizadas para ativar a emoção dos estudantes em uma aula são:
Conectar o conteúdo com suas experiências pessoais
Tente encontrar formas de relacionar o conteúdo com situações reais que os estudantes possam se identificar.
Utilizar materiais e recursos visuais interessantes
Utilize recursos visuais como vídeos, imagens, gráficos e infográficos para apresentar o conteúdo de forma visualmente atraente e engajadora.
Realizar atividades práticas
Atividades práticas, como experimentos e simulações, permitem que os estudantes vivenciem o conteúdo de forma mais realista e prática, o que pode aumentar seu envolvimento emocional.
Contar narrativas inspiradoras
Utilize histórias que envolvam emoção e inspirem os estudantes a se identificarem com o conteúdo. Isso pode aumentar a conexão emocional com o conteúdo potencializando sua relevância.
Incentivar a colaboração e o trabalho em equipe
Atividades em grupo ou em dupla podem incentivar a colaboração e o compartilhamento de ideias, o que pode aumentar a conexão emocional dos estudantes com o conteúdo e uns com os outros.
Vale enfatizar que a atenção e memória são processos que estão intimamente ligados na aprendizagem. A atenção nos permite selecionar informações e a memória irá armazená-las no cérebro. A atenção é, portanto, um componente essencial, a chave para a aprendizagem, entretanto, o cérebro não apenas memoriza as informações aprendidas durante uma aula, mas também armazena as emoções sentidas. Isso significa que retemos o que vimos, ouvimos e sentimos. Entre as informações transmitidas ao cérebro, as emoções sentidas têm um grande impacto na nossa capacidade de aprender.
3 – Potencialize o aprendizado ativo com estratégias de input e output!
Na neuroeducação, o input se refere a todo tipo de informação que o cérebro recebe, seja por meio dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), seja por meio de outras fontes, como leitura e interação social. Essas informações são processadas pelo cérebro, que as transforma em conhecimento.
É importante destacar que o input é mais efetivo quando é significativo e relevante para o estudante, ou seja, quando ele consegue fazer conexões com o que já sabe e com suas experiências pessoais.
Já o output se refere à forma como o conhecimento é expresso pelo estudante, ou seja, como ele demonstra aquilo que aprendeu. Isso pode ocorrer por meio de diversas formas, como verbalização, escrita, desenho, resolução de problemas, entre outras.
O output é importante porque permite que o estudante consolide o conhecimento adquirido e verifique se realmente compreendeu o que foi ensinado. Além disso, o feedback recebido pelo professor ou pelos colegas pode ajudar o estudante a identificar lacunas em seu aprendizado e a buscar novas informações e esclarecimentos.
É um fato comprovado que o cérebro muda depois que novas habilidades são adquiridas por meio da neuroplasticidade. No entanto, se o estudante não tiver a capacidade de exercitar o que acabou de aprender, esquece o que acabou de ser ensinado, por isso a neuroeducação promove o aprendizado ativo com estratégias de input e output.
Para o processo de input o docente se dedica a explorar um tema, algumas práticas podem ser implementadas a fim de maximizar a aprendizagem dos estudantes. Leituras cuidadosas, podcasts envolventes, documentários ou vídeos de qualidade e explanações claras são algumas atividades utilizadas. Já o processo de saída de informação, chamado de output, é tão importante quanto input. O aluno precisa ter a chance de trabalhar o conhecimento adquirido e aplicá-lo de forma efetiva. Ele pode, por exemplo, expor oralmente o que aprendeu, gravar áudio notas, criar mapas mentais ou anotações inteligentes para facilitar a revisão do conteúdo. Responder questões, praticar atividades e solucionar problemas reais relacionados ao tema também são excelentes formas de consolidar o aprendizado. Com a combinação adequada de INPUT e OUTPUT, o resultado é um processo de aprendizagem mais eficaz e duradouro.
As três estratégias mencionadas têm a capacidade de despertar a emoção, estabelecer conexões significativas e facilitar o processo de aprendizagem, ao mesmo tempo que proporcionam experiências inesquecíveis aos estudantes. Essas abordagens estimulam o cérebro dos alunos e criam conexões neurais que se transformam em memórias duradouras e positivas. Além disso, aproveitam a plasticidade cerebral, possibilitando que os conhecimentos adquiridos sejam aplicados em diferentes momentos e contextos, tanto profissionais quanto pessoais.
Como uma instituição de ensino superior, é nosso papel estar cientes dessas descobertas e incorporá-las em nossa abordagem educacional para fazer escolhas mais informadas, adaptar e melhorar as oportunidades de aprendizagem disponíveis. Nosso objetivo final é maximizar o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes.
Por: Revista Ensino Superior