Paraná tem 80 mil universitários com mais de 40 anos
Último Censo da Educação Superior mostrou que há mais de 80 mil universitários com mais de 40 anos no Paraná
Depois de 30 anos longe de uma universidade, Luiz Zambão teve que revirar a sua vida. Ao se deparar com um câncer no pescoço, ficou impossibilitado de continuar no seu trabalho e decidiu voltar a estudar. A decisão, é claro, não foi fácil, mas os números mostram que mais pessoas têm feito como seu Luiz. Segundo especialista, foi-se o tempo que a idade era um impeditivo.
No Brasil, hoje, há 1,2 milhão de universitários acima dos 40 anos, o que corresponde a 13,4% do total nas instituições brasileiras de ensino superior. Em 2002, essa proporção era de 6,4%. No Paraná, segundo último Censo da Educação Superior (2021), existiam 80.581 estudantes com mais de 40 anos. Em 2012, havia 39.326. Um aumento de 104,9%.
Seu Luiz descobriu um câncer no pescoço e não conseguiu continuar sua carreira como representante comercial, profissão que já exercia há 35 anos. Na época, decidiu encontrar inspiração de outra forma para suportar os percalços da doença. Mesmo já formado em geografia e gestão de negócios, aos 50 anos viu a oportunidade de voltar ao seu sonho de antigamente: estudar direito.
“A gente tem uma certa estranheza ao voltar, porque você se sente como um peixe fora do aquário, fica até um tanto desconfortável… mas com o tempo você vai superando essa timidez e começa a perceber que não tem nada de errado, que tudo vai acontecer naturalmente”, ele comenta sobre a experiência de voltar a sala de aula.
Hoje, com 58 anos e depois de vencer o câncer, seu Luiz é estagiário no Tribunal de Justiça do Paraná e quer inspirar outras pessoas com sua história. “Penso que poderei servir os menos favorecidos e vulneráveis. Da mesma forma que fui acolhido, pretendo de alguma forma servir e retribuir a sociedade. Passei os três anos de tratamento desacreditado, mas me mantive firme. Temos que usar o passado como força para seguir em frente.”
Outra história parecida é a de João Gustavo Freire. Mas não tão parecida assim. João, na verdade, nunca saiu da universidade. Só foi de professor para aluno. Aos 37 anos, já engenheiro e professor universitário, ele decidiu mudar de área ao invés de seguir para o doutorado. João também entrou no curso de Direito. “Não mudou muito a minha rotina familiar, não parei de trabalhar. Tinha dias que eu estava em um bloco dando aula e depois ia para o outro para assistir outras aulas.”
Para João, voltar à sala de aula como aluno foi excelente. Ele conta que aprendia os conteúdos, mas também observava a didática de seus professores e colocava em prática quando voltava para os seus alunos. Agora formado e advogando, o professor acredita que a idade fora do padrão só o ajudou em todos os aspectos: mercado de trabalho, maturidade e paciência.
“Eu não acho que 35/40 anos seja tarde demais. A expectativa de vida aumenta ano após ano, a Reforma da Previdência adia a aposentadoria. Se a próxima geração viver até os 100 anos, o que são 40?”, comenta.
O especialista, coordenador de administração da Universidade Positivo, Fabio Vizeu, acredita que foi-se o tempo em que pessoas com mais de 40 anos eram consideradas velhas demais para o mercado. Para ele, a população madura tem perfeitas condições de produzir e poder agregar ao mercado de trabalho.
Ele analisa, no entanto, que ainda há preconceito em algumas áreas específicas, como o caso das Startups. Mas, do lado dos profissionais, o que podem fazer é se adaptar às novas tecnologias e meios de trabalho.
“Os profissionais com mais idade já têm uma certa bagagem no mercado de trabalho e estão calejados das dificuldades, das crises, dos desafios da vida adulta. Enquanto isso, os jovens trazem as possibilidades da experimentação. A troca entre eles é muito saudável para um ambiente corporativo mais produtivo”, finaliza Vizeu.
Seu Luiz, do início da reportagem, concorda. “Não vejo essa dificuldade. Esse discurso de que as profissões estão saturadas, que não tem espaço… eu sempre acreditei que quando você faz um trabalho com excelência, você conquista o seu espaço no mercado de trabalho. Temos muito a agregar”
Por: Bem Paraná