Reconstrução da Educação: como a tecnologia ajuda na revolução do ensino básico?
Gestores apontam caminhos para o Brasil ter uma escola pública de qualidade
Nos anos finais do ensino fundamental, que compreende a faixa etária dos 11 aos 14 anos, se manifesta o início de preocupações que se tornam verdadeiros desafios no ensino médio. Para superar defasagens de aprendizagem e aumentar a conexão da escola com as novas gerações, as plataformas tecnológicas despontam como uma saída, mas é preciso cautela para que não sejam apenas uma réplica do papel do professor.
A melhoria do ensino fundamental 2 foi o tema discutido no último painel da série de eventos Reconstrução da Educação, promovida pelo Estadão nesta quinta-feira, 25. Com mediação de Renata Cafardo, repórter especial e colunista do Estadão, participaram da conversa Cristieni Castilhos, CEO da MegaEdu e especialista em projetos de educação na sociedade civil; Daniel Santos, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (Lepes) da USP; e Roni Miranda Vieira, secretário da Educação do Estado do Paraná.
A gente vê que tem alguma coisa pra ser melhor olhada”, inicia Daniel Santos. Para ele, a importância do debate é amplificada pela escassez de pesquisas sobre essa etapa da educação básica, que se reflete, por exemplo, na falta de pedagogias específicas para seus estudantes.
“Os dados mostram que é onde a gente deixa de atingir metas de aprendizagem e a gente percebe que os jovens começam a se desengajar, as dificuldades com a saúde mental começam a piorar e os professores muitas vezes pedem para não dar aulas para o 6.º e 7.º ano”, resume o pesquisador.
Segundo Roni Miranda Vieira, uma solução em implementação no Paraná é o uso de sete plataformas tecnológicas educacionais para apoiar o trabalho dos professores. “Temos de redação, de leitura, de matemática, que é um grande desafio em todas as redes. O professor usa em sala, em algumas aulas por semana, e com isso consegue dar uma atenção maior para aquele estudante que está com maior dificuldade”, explica.
O Estado do Paraná tem cerca de 560 mil alunos matriculados nos anos finais do ensino fundamental — etapa que vai do 6.º ao 9.º ano — e é responsável por 98% dessa rede.
De acordo com Cristieni Castilho, se antes da pandemia aproximadamente metade dos professores se interessavam pelo uso da tecnologia em sala de aula, hoje esse interesse é de 97% dos profissionais de educação. “Tem uma geração nova de crianças chegando, que têm um olhar mais digital, e é natural que elas precisem de uma escola mais conectada com a geração delas”, analisa.
Entre os desafios para que as plataformas tecnológicas educacionais façam parte do ensino público brasileiro, estão a exclusão digital. “Quando a gente olha para as escolas públicas, mais da metade tem de um a três computadores e mais de 20 mil escolas não têm nenhum tipo de acesso à internet. São quase 4 milhões de estudantes fora desse mundo”, afirma a CEO da MegaEdu.
No primeiro meet point da série Reconstrução da Educação, gestores públicos e pesquisadores da área destacaram que a recomposição da educação no Brasil passa pelo fortalecimento de uma cultura democrática nas escolas, pelo combate às desigualdades desde a alfabetização e pelo investimento em professores.
Já no segundo encontro, os especialistas discutiram a ampliação das vagas de tempo integral nas escolas brasileiras. Segundo o Censo Escolar de 2022, somente 14,4% dos alunos da rede pública estão matriculados no ensino integral em todo o País – o Plano Nacional de Educação (PNE) estabelece 25% dos alunos da educação básica como meta para 2024. O levantamento aponta, ainda, que metade das escolas públicas brasileiras não possui nenhum estudante em modalidade integral.
No terceiro bate-papo, os convidados falaram sobre como a alfabetização, tanto na idade certa quanto para alunos mais velhos que tiveram uma lacuna de aprendizagem, deve ser uma prioridade para evitar o “efeito cascata” que aparece com o crescimento dos níveis de analfabetismo.
E, no penúltimo evento da série, o assunto foi o ensino médio e o que pode ser feito para melhorar a última etapa da educação básica. Para os especialistas, uma política nacional de reestruturação deve ser pensada além das mudanças curriculares, considerando, por exemplo, a melhoria da infraestrutura física e pedagógica das unidades escolares e uma política de permanência de estudantes.
Por: Terra