O futuro do ensino superior em tempos de reinvenção
“Provavelmente, daqui a pouco, começaremos a falar de computação quântica. O que acontece é que os ciclos de inovação são permanentes, provavelmente serão infinitos”
A edição 2024 do evento “O Admirável Futuro da Educação Superior” aconteceu dia 27 de junho, de maneira remota, e debateu o impacto das transformações sociais, econômicas e tecnológicas no ensino superior do Brasil e do mundo. Realizado pelo Semesp, Consórcio Sthem Brasil e Universidade de Coimbra, o evento teve, ainda, o apoio da Arizona State University e do Tecnológico Monterrey.
Enquanto espaço exclusivo de produção científica e formação profissional, as universidades precisam mesmo se reinventar para se adaptar às novas demandas da sociedade contemporânea? A pergunta impulsionou os temas dos paineis.
Em vinte anos, ocorreu um looping de inovações, do webdesigner e sites institucionais ao fenômeno das redes sociais, do mobile e dos aplicativos até as realidades virtual e aumentada e agora a inteligência artificial.
“Provavelmente, daqui a pouco, começaremos a falar de computação quântica. O que acontece é que os ciclos de inovação são permanentes, provavelmente serão infinitos”, afirmou Hugo Pardo Kuklinski, diretor da Outliers School, especialista em comunicação digital e sua confluência com a inovação tecnológica, no primeiro painel, ocorrido pela manhã.
Cada vez que surge um novo ciclo de inovação, as IES parecem ter de começar tudo de novo. Mas, muitas vezes, a solução para abarcar a inovação é implantar o que Kuklinski chama de “cultura startup”, que oferece o senso de inovação permanente. Ele apresentou conteúdos de seu livro Os futuros inevitáveis das universidades: Ideias para gestores realizarem a consolidação híbrida, que descreve 12 forças tecnológicas inevitáveis, que afetam os negócios, as interações humanas e o mundo institucional. A mudança permanente, a agregação de inteligência artificial às interações, a permanência nas multitelas que leva à perda de referência ao texto impresso e à cultura monotextual acadêmica – emergindo, então, a cultura transmídia – estão entre essas forças.
No painel 2, “O fim da IES como conhecemos hoje”, Marina Feferbaum, coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação (CEPI) da FGV, abordou o tema da inteligência artificial generativa e mencionou dados de pesquisa realizada pela Times Higher Education com cerca de 2.400 reitores de IES norte-americanas. Ela conta que 20% dos reitores afirmaram que já publicaram alguma política para uso ético de inteligência artificial. A maioria afirmou ter recebido demandas de funcionários e professores para uso das novas ferramentas. Cerca de 14% deles já revisaram seus currículos, portanto, a maioria ainda está planejando uma revisão, ou seja, tateando as habilidades e competências necessárias em seus currículos ou as formas pedagógicas adequadas para empoderar os estudantes diante do novo cenário.
Estudo realizado pelo CEPI elencou os principais usos da IA pelos professores, entre eles, o voltado à pesquisa, à análise preditiva e o estudo da performance do estudante, principalmente na área das exatas, o que leva ao tema da personalização do ensino.
Em outro estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico dos principais artigos científicos que discutem educação e ensino. “Um dos maiores problemas apontados por esses artigos é a integridade acadêmica, ou seja, como lidar a partir dessas ferramentas, além da questão das alucinações, discriminação de vieses, privacidade e segurança de dados e transparência.”
No mesmo painel, Dale P. Johnson, diretor de inovação digital da Universidade Estadual do Arizona, afirmou que “nós não vamos reconhecer as nossas universidades em dez, vinte anos, porque terão mudado drasticamente” e, na atualidade, vê “os mesmos desafios em todas as partes do mundo”, em áreas como liderança, cultura, ensino, aprendizagem, todas importantes para o sucesso das IES. “Precisamos reimaginar, reprojetar e reconstruir as instituições”, afirmou.
Johnson ponderou que o sistema educacional foi projetado centenas de anos atrás como uma série de ilhas, começando na pré-escola, a educação primária e secundária, em seguida a universidade e a aprendizagem contínua ao longo da vida. “Precisamos repensar a conexão entre todas as oportunidades de aprendizagem, conectando todas as ilhas.”
Ele utiliza a metáfora do Lego para repensar a estrutura da universidade. Ao invés de camadas de aprendizado, a Universidade Estadual do Arizona criou um modelo integrado, no qual todos os serviços educacionais podem ser misturados, com pré-escola, escola básica, ensino superior e lifelong learning. “Os estudantes podem começar na Universidade do Arizona com quatro anos de idade e continuar a aprender em toda a sua vida, até 104 anos de idade, porque pensamos nas pontes que conectam as oportunidades educacionais.”
Por: Revista Ensino Superior