Se a escola sofre e fecha, sofreremos mais
As escolas particulares chegaram ao seu limite. E o ultrapassaram. Muitas não conseguiram chegar ao limite e fecharam as portas. Triste fim para quem sonhou em oferecer serviços educacionais de qualidade para uma nação que tanto precisa disso. Diante do posicionamento demagógico e inconsequente de governos que tratam a educação como tratam os demais segmentos da economia (ou ainda pior), vejo que teremos ainda muito mais sofrimento no futuro de nosso país.
Com mais de 40 anos na área da comunicação educacional e como conhecedor da falta de comprometimento com o bem comum que caracteriza os nossos políticos, eu já poderia emitir uma opinião consistente sobre os inesperados decretos emitidos por alguns gestores públicos que, tardiamente, posam de líderes atentos e preocupados. Mas não é assim que desejo me expressar. Quero falar como pai de um garoto que inicia a jornada educacional com 6 anos de idade, depois de um ano cheio de esperanças, que vinham e voltavam para que as aulas retomassem. E, como pai, acompanho a angústia de crianças e famílias que estão buscando médicos e psicólogos que possam ajudar a buscar a saúde emocional para os filhos em revolta, às mães em desespero com os filhos em casa e os pais que também já se revoltam, até mesmo com as escolas e suas mensalidades.
Quero falar como diretor do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), que está acompanhando com apreensão o grande mal que, além da trágica pandemia, os governos estão trazendo às escolas, aos gestores educacionais, aos professores e colaboradores em geral da área educacional particular que seguem na procura de um norte para a sustentabilidade da escola, para a sobrevivência do emprego, na busca de alternativas para servir à educação tão desejada. Não se trata da “pandemia”, trata-se da demagogia irresponsável, eleitoreira e inconsequente.
As escolas particulares se prepararam para a retomada das aulas com toda a responsabilidade. Investiram em equipamentos para adequação de ambientes, colaboradores e professores, comunicação de forma didática e informações para orientar o convívio no ambiente educacional diante do vírus. E foram além dos protocolos estabelecidos porque acreditam que, para ser uma instituição educacional, não poderá ser pouco o comprometimento.
A responsabilidade de uma instituição educacional vai além de um mandato eleitoral. A educação é para a vida inteira. As pausas no processo educacional podem ter danos imensuráveis, pois, além dos conteúdos das matérias escolares, existe a parte mais importante para uma criança: a autoestima, a convivência, o amor ao próximo e o próprio ensino de valores como justiça, solidariedade, respeito, ética e, principalmente, o ensino das noções básicas da cidadania e do bem comum, valores que são ensinados e praticados na convivência social, no conflito das ideias e no diálogo escolar, e que são tão necessários para aqueles que lideram setores públicos e tomam decisões como essa, que afetam as escolas públicas e particulares sobremaneira.
Mais do que em qualquer tempo, nossos filhos precisam das escolas de qualidade. Lá, estarão mais protegidos do que em qualquer lugar público – e até mesmo do que em nossas casas, no convívio de familiares que entram e saem para suprir necessidades. E as escolas precisam do bom senso, responsabilidade e bom juízo dos governantes, em vez de nefastas decisões tomadas em benefício único de suas imagens e interesses de sobrevivência nas próximas eleições. E em total desfavor à qualidade da educação para os nossos filhos e o futuro de nosso país.
Rogério Mainardes é diretor de Marketing do Sinepe/PR, consultor de Marketing e Comunicação do Curso Positivo, empresário e diretor da COM/M Educação, diretor da ZAP – Ziraldo Artes Produções, palestrante e professor em cursos de pós-graduação e coordenador da Clínica de Marketing Educacional do Programa Escola Segura.
Por: Gazeta do Povo