Educação híbrida ajuda a recuperar aprendizagem na volta ao presencial
Professor pode usar diferentes metodologias de acordo com cada espaço e tempo de estudo, presencial ou online. Definição de habilidades prioritárias e resultados de avaliações oferecem norte para atividades
A educação híbrida pode ajudar na recuperação da aprendizagem na volta às aulas presenciais ao permitir que o professor diversifique os tempos, espaços e metodologias usadas no processo. Para isso, ele precisa ter um mapeamento para diferenciar o que pode fazer em cada momento a partir do que definiu como essencial.
No contexto da pandemia, o primeiro passo a ser dado é definir quais são as habilidades prioritárias, aquelas que serão avaliadas e desenvolvidas pelos estudantes, segundo Rafaela Beleboni, gerente de avaliações e indicadores de aprendizagem da Conexia Educação.
“Para poder definir estas habilidades essenciais, precisa obviamente ver o que é o essencial do essencial, o foco da disciplina para aquela série. Uma possibilidade é articular com os conhecimentos que o aluno ainda precisa desenvolver. Ela é prioritária porque é necessária para a aprendizagem referente a uma outra habilidade ou conteúdo que está por vir. Se ele não desenvolve uma habilidade essencial, pode comprometer o desenvolvimento de outras habilidades.”
Com o mapa de foco em mãos, é preciso fazer avaliações diagnósticas para mapear quais habilidades foram desenvolvidas e quais ficaram em defasagem. A partir daí, é possível fazer ações de recuperação da aprendizagem.
O educador pode usar instrumentos diversificados, de acordo com Rafaela. “Se tiver acesso à tecnologia, pode usar jogos gamificados que, inclusive, já trazem resultados com relatórios que indicam rapidamente qual é o desempenho, qual é o nível do aluno, qual é o nível da classe, em que faixa de aprendizagem ele está.”
Outra opção é criar instrumentos de avaliação com questões diversificadas. Se a aplicação for online, os resultados saem rápido e indicam a quais habilidades cada questão se refere. “O professor tem, com mais rapidez e mais assertividade, os indicadores de aprendizagem para poder economizar tempo nesta burocracia de trabalhos manuais e ganhar tempo para preparação das aulas.”
Uma vez que o professor mapeou as habilidades e levantou quais são aquelas que se referem a lacunas de aprendizagem da classe ou do aluno, de acordo com Rafaela, ele deve estabelecer quais são aquelas que são mais fáceis de desenvolver e avaliar no modo online e quais são aquelas que precisam de uma interação presencial ou de uma proximidade maior entre educador e estudante.
“É óbvio que para isso precisa de planejamento. Ele pode investir tempo no momento presencial para interações e acolhimento. Essa afetividade interfere na aprendizagem também. É necessário valorizá-la.”
Para Rafaela, se o aluno não aprender de um jeito, repetir a mesma coisa não vai funcionar. Por isso, é preciso diversificar as estratégias. “O professor pode definir o que pode fazer de modo expositivo, porque isso não precisa ser totalmente abolido, e o que pode fazer com aprendizagem ativa, centrada no aluno.”
Pode ainda usar estratégias online. “Se ele tem ferramentas digitais que permitem a divisão dos alunos em grupos, por exemplo, de modo online, ele pode adaptar estratégias de aprendizagem ativa, como a rotação. Se tiver esse recurso em uma aula, usando ferramentas como o Zoom, ele consegue fazer isso”, diz a gerente.
Na aula presencial, o professor pode montar grupos, atendendo as regras de distanciamento. “Se tiver um espaço físico adequado, ele pode usar esses momentos para fazer aprendizagem ativa de modo presencial. Com isso, consegue diversificar as estratégias de aprendizagem, de avaliação e de recuperação.”
Envolvimento
No Colégio Genius, em Campinas (SP), o ensino híbrido já é usado para levar às aulas dinâmicas e estratégias diferentes que ajudam o professor a engajar os alunos de maneira mais envolvente, segundo a diretora mantenedora pedagógica Mari Januário.
Para isso, trabalha com ferramentas como o Google Chrome e a Plataforma AZ, da Conexia Educação. “Usamos atividades gamificadas e de reflexão, com resumos do conteúdo aprendido. São formas que os alunos têm de rever o conteúdo atual e do ano anterior.”
A escola busca também desenvolver habilidades como colaboração, autoestima, confiança e empatia. “Isso precisa ser presencial, interativo”, explica Mari. A escola, que tem 620 estudantes da educação infantil ao ensino médio, voltou às aulas presenciais em agosto. Cerca de 20% dos alunos continuam em casa, estudando online.
No início do ano, o colégio aplicou uma avaliação diagnóstica com ajuda da Plataforma AZ para entender como estava a aprendizagem dos alunos e quais eram as lacunas. Elaborou um plano de ação a partir dos resultados.
“Deu base para que a equipe pedagógica se sentisse confortável com as ações ao longo de 2021. Na plataforma do aluno, além do material da série em que ele está, tem o material do ano anterior. O professor faz um ziguezague, usando metodologias ativas e circuitos formativos em sala”, explica Mari. Ao mesmo tempo, a escola segue com o calendário de avaliações formativas para acompanhar o desenvolvimento dos alunos.
Em paralelo às aulas, a escola incentiva que os estudantes façam “Trabalhos de Mentoria”, que são interdisciplinares e desenvolvem habilidades socioemocionais, com temas atuais como o racismo. Para aqueles que necessitam de atenção especial, há atividades de apoio oferecidas no contraturno escolar de forma presencial e online.
Entre as mudanças observadas nos estudantes na volta ao presencial, segundo Mari, estão a dificuldade de se readaptarem à rotina escolar, a falta de concentração e o uso do celular em sala. “Os combinados estão sendo retomados. Tivemos que voltar ao Manual do Estudante com alunos e familiares”.
Os estudantes estão mais fechados e tímidos e perderam o hábito de escrever à mão. “Estamos mostrando, devagar, a necessidade de voltar a escrever, colocando aos poucos na rotina. Todas as turmas que já escreviam voltaram com esta questão”, conta a diretora.
Flexibilidade
O ensino híbrido proporcionou maior autonomia aos estudantes pela flexibilidade de horários e espaços, de acordo com Mônica de Azevedo Nogueira, diretora da unidade de Perdizes, em São Paulo (SP), da Escola Bilíngue Pueri Domus. “Tivemos avanços em termos de conhecimentos de recursos de tecnologia. O híbrido mostrou que não existe uma única forma de aprender e que podem aprender em qualquer lugar.”
Inaugurada no ano passado, a unidade começou o ano de 2021 com 598 alunos desde o maternal até o segundo ano do ensino médio. O retorno de 100% das turmas às aulas presenciais no horário regular aconteceu neste mês.
A escola aplica nesta semana uma avaliação externa para fazer um diagnóstico do desenvolvimento dos alunos em português, matemática e inglês. “Com os resultados, podemos resgatar o que o grupo consolidou na aprendizagem, onde pode avançar, que recursos precisamos usar para reavaliar a proposta pedagógica e traçar metas para o próximo período.”
Os professores têm um olhar cuidadoso em relação às características e competências de cada aluno, segundo Mônica. “As intervenções pedagógicas são feitas no sentido de proporcionar o melhor desempenho e uma maior autonomia. O acompanhamento individual acontece no apoio e na mentoria, que ajudam bastante a avançar de acordo com a necessidade e momento específicos.”
Entre as atividades organizadas para serem feitas online estão as pesquisas, aulas invertidas, uso de aplicativos e plataformas de aprendizagem. “O online demanda uma autonomia maior. As aulas presenciais têm foco nos pontos que os alunos mais precisam desenvolver, com interação com o professor e com os colegas, para promover avanços.”
As dinâmicas que promovem interações na escola incluem jogos, uma olimpíada anual de esportes e campanhas sociais. “As crianças sofreram muito na pandemia pela distância dos colegas. Agora, na volta, chegaram agitadas por conta da vontade de estarem com os amigos na escola. Estão felizes por estarem juntos novamente.”
Por: Porvir