Sem resposta do Inep após decisão do STF, alunos não sabem se farão Enem
Uma semana após o STF (Supremo Tribunal Federal) decidir pela reabertura do pedido de isenção do Enem, o MEC (Ministério da Educação) e o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) não se pronunciaram a respeito, muito menos deram uma previsão para a reabertura das inscrições do exame.
No sábado, o UOL noticiou que a reabertura das inscrições, segundo técnicos do Inep, poderia provocar o adiamento da prova. A falta de posicionamento dos órgãos responsáveis tem trazido incertezas para quem já se inscreveu no exame e para quem aguarda uma nova chance.
A assistente administrativa Luciana Lima, de 43 anos, e sua mãe, Lúcia Lima, 64 anos, temem ficar de fora da edição 2021. “Espero que o MEC considere genuinamente executar essa decisão para que outras pessoas estudem, e que reconheçam aqueles que não são considerados [para o vestibular por serem pobres”, disse Luciana.
Ela quer usar a nota do Enem para cursar Comunicação Social. A mãe, sonha com o curso de Medicina. Elas desistiram de fazer o exame em 2020, que ocorreu em janeiro deste ano, por medo da contaminação pelo novo coronavírus. Para Luciana, o MEC “está regredindo ao não tomar uma decisão”.
A diarista Ilma Brito, 36 anos, disse estar desanimada e cheia de incertezas em relação à inscrição. “Acho que eles [MEC] estão ganhando tempo para reabrir na última hora e, assim, não dar tempo para todos nós conseguirmos nos inscrever”, explica. O plano desse governo é que pobre continue na posição que está: trabalhando em serviços com menos ganhos, mendigando, esperando cair da mesa, sabe? A pobreza gera comoção mundial, mas, ao mesmo tempo, é vista como ‘você tem que ficar aí’.” Ilma Brito, diarista que pretende estudar Biomedicina.
A reabertura do pedido de isenção foi determinada pelo STF após análise de uma ação movida pela Educafro e outras entidades ligadas à educação e partidos políticos. O edital do MEC previa que quem teve a isenção da taxa de inscrição em 2020 e faltou nos dias da prova só poderia ter novamente a gratuidade em 2021 se conseguisse justificar a ausência.
Entre os motivos, não constava o medo de desenvolver a covid-19. Em meio à pandemia, a edição registrou recorde de abstenção desde 2009. No Enem digital, o índice chegou a 70% e no impresso, a 50%. Tenho expectativa sobre aquilo que vejo, e o MEC está me apresentando o seguinte: você não tem condição, nem acesso e valorizou sua vida? Não adianta tentar, porque não vai ter o direito. Só que isso não é um favor, é um direito.”Luciana Lima, assistente administrativo que quer estudar Comunicação Social.
Sem definição, inscritos podem ter planejamento ‘bagunçado’
Para quem já se inscreveu no exame, a falta de posicionamento dos órgãos responsáveis pode prejudicar o planejamento. A estudante Bruna Bele, 21, tem uma rotina focada em vestibular. Ela faz cursinho pré-vestibular no Anglo São Paulo e é a favor do adiamento se ele for para ajudar quem não conseguiu a isenção.
“O problema é a falta de planejamento, porque a faculdade é para todo mundo, sem distinção, e deviam ter planejado que muitos deixariam de ir por medo da pandemia”, justifica.
Ela quer usar a nota do Enem para conseguir uma vaga no curso de Direito em universidade pública. Caso a prova seja adiada, a divulgação do resultado sairá mais tarde, o que pode “bagunçar” suas escolhas.
Já o estudante Tiago Sala Lima, de 17 anos, do colégio Santa Maria, disse que o Enem não é sua única opção, mas com o resultado da prova pode tentar uma vaga de Economia na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). “Meus amigos do cursinho comentaram que, se a data for mudada, pensam em desistir de fazer e até pedir reembolso, mas eu nem sei se pode isso”, relatou.
Para ele, o MEC pode pensar em alguns formatos para ajudar a todos os participantes e novos inscritos, como oferecer mais vagas na versão digital.
Leonardo Gaia, 17 anos, também aluno do Santa Maria, disse que fica difícil não ter uma certeza da data da prova já que não sabe como planejar os estudos. “Agora a matéria está fresca, mas, se ficar pro ano que vem, não sabemos quanto tempo teremos para estudar a mais, por exemplo.”
Bruna passa pelo mesmo dilema, já que tem um planejamento de revisão de conteúdos usando a data atual do Enem. “Se mudar para 2022, preciso pensar em tudo de novo, não gera só insegurança como medo também”, explica.
A reportagem entrou em contato, ao longo de toda a semana, com o MEC e o Inep para saber quando pretendem reabrir o pedido de isenção e se o exame deve ser adiado para 2022, mas não teve resposta. A decisão do STF, tomada na sexta-feira passada, devia ter sido respeitada assim que publicada, mas até o momento não qualquer posicionamento oficial do governo federal.
Por: Uol